Ser religioso

Ser religioso




Por Pe. Jorge Ribeiro

O ser humano é apenas o que tem e vive ou sua estrutura permite algo a mais? O ser humano se reduz a emoções, experiências, vivências psicofísicas e sensações,  além das relações e as inserções sociais ou tem algo que permite esse ser humano ir além do dado? Qual a experiência de ser humano que fazemos? Dentro da pessoa humana existe algo que essa intencionalmente experimenta e busca, a qual supera as dimensões fenomênicas ou isso é uma ilusão? A pergunta pode ser reformulada: o ser humano carrega em si o desejo e a capacidade de se autotranscender ou  isso é fruto de algo inculcado pelas diversas circunstâncias?
O ser humano é naturalmente descontente, não se acostuma com a mesmice e com o já pronto, mas busca novidades sempre, inovando-se e se reinventando. A pessoa humana também não se sente confortável e ensimesmada com o resto da criação, seria isso indício de sua dimensão espiritual ou simplesmente um desconforto perante as muitas possibilidades? O fato de não conseguir uma felicidade permanente, isso implica que a pessoa foi feita para uma felicidade maior ou apenas insatisfação com o que se é e se tem? Todo ser humano deseja ser feliz e busca essa realização em diversos caminhos e nunca está completamente completo. Essa constatação é uma veracidade em relação a toda pessoa ou alucinação de quem pretende algo que não lhe é próprio?
Dentre todos os seres criados, ao menos do que se tem conhecimento, apenas as pessoas humanas tem a capacidade e a possibilidade real de escolher, de optar livremente até mesmo pelo errado, porque no uso da sua liberdade se sente, de algum modo, absoluto, autônomo e capaz de. Essa sensação impulsiona a pessoa a novas aventuras, não somente se adaptando e buscando suprir as necessidades, mas criando e elaborando outras vias de ser o que se pretende ser.
Verdade também é que muitas pessoas se acostumam e se acomodam com a realidade oferecida. Vive os prazeres e dores da caminhada, aceitando assim como as coisas são e tentando driblar os sofrimentos. Outros ainda se lançam por uma estrada de retidão e coerência, mas não ousam pensar ou querer algo mais que a estabilidade e bem-estar. Essas atitudes respondem a tudo que a pessoa pode e almeja? Alguém pode viver sem se interrogar e não ousar sequer ser feliz. Mas essa maneira de se posicionar cala permanentemente a vontade de realização ou se prefere assim para evitar possíveis dores?

De onde vem então essa mania humana de buscar o infinito? Seria uma paixão inútil para se fugir das desilusões e decepções do cotidiano?  A intensa correria da pessoa para ter mais seria sintoma de uma natureza insatisfeita ou somente um defeito no modo de lidar com a própria existência? Essa ferida que cada pessoa carrega dentro como se não se encontrasse completamente, é algo real e comum a toda a raça humana ou é fruto de uma cultura que insufla a pessoa a uma insaciável busca? Essa expansão da pessoa verso o desconhecido e o infinito é uma abertura ao transcendente ou só a transferência para outra dimensão ou outro ser a chance de resolução do que se é incapaz? Enfim, a busca pelo divino é algo que caracteriza a pessoa como ser religioso? A pessoa pode encontrar a sua razão de ser e o sentido do seu existir desde o nascer ao perecer em si mesma ou precisa de Deus para saciar sua sede de absoluto e felicidade? Talvez aqui esteja o significado do ser religioso da pessoa e porque essa está sempre em movimento.

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