Carentes
Por Pe. Jorge Ribeiro
Todo sentimos ausência, vazio,
saudades e carências. Entretanto, para quem está em certo equilíbrio, não sai à
procura desregrada de se encher com as primeiras possibilidades e presenças que
se encontram. A carência é como animal faminto, não escolhe o alimento. A
pessoa carente busca se preencher e, caso não tenha um fundamento sólido,
termina por se abarrotar de quinquilharias.
A nossa natureza humana tende a ser
realizada, satisfeita, completa, feliz, mas de maneira absoluta é impossível, a
não ser quando se cala ou se ignora os desejos mais profundos da alma humana;
entretanto, as exigências são diversificadas e ao longo do processo existencial,
as pessoas vão se acomodando e vão restringindo o desejo d felicidade a
alegrias momentâneas, que provem de coisas, pessoas ou situações. Destarte essa
consideração, quando algo ou alguém que oferece esse suporte já não é mais
presente, geralmente, as pessoas vão em busca de uma solução, pois a ausência
vazia é insuportável.
Aqui entram os subterfúgios e as fugas, onde se mascaram os verdadeiros
desejos e exigências com paliativos, que se esvaem fugazmente, mas que muitos
preferem a não permanecer na carência. E tanta vezes se justifica tal sujeição
a slogans de fácil manipulação sociocultural, como “meu corpo minhas regras”,
“cada qual faz o que gosta”, “sou dono do meu próprio nariz”, entre tantos
exemplos, e isso por um lado obscurece a mente
e o olhar da pessoa carente, que até se torna ríspida em relação aos
outros e também a faz “absoluta”, justificando-se que agora é que está vivendo
de verdade. O enfileirar-se de oportunidades logo bate à porta e esse caminho
pode não ter volta.
A carência não é somente afetiva,
mas é também social, de reconhecimento, relacional ou de outra dimensão. Em
comum a carência expressa ausência,
vazio e necessidade de se completar. E quando não se tem bem claro o que se
deseja e o que se pretende, a pessoa pode se empanturrar com as primeiras
coisas ou pessoas que aparecem ou realidades mais fáceis também. Algumas vezes essa carência se explode como
grito de libertação ou de autonomia, mas acaba por revelar um abismo ainda
maior. Enquanto seres carentes perambulamos nas vielas da existência em busca
de uma sentido apaziguador e quando não se percebe claramente esse percurso ou
se cansa de esperar e de caminhar, abate-se o desânimo, a tristeza e até mesmo
a angústia, o que pode contribuir para que as escolhas não sejam bem elucidadas
e coerentes. A carência é porta para muitos vícios, desvios, ostracionismos e
outros tantos errados indumentos. O que pode curar a carência e os carentes é a
presença, seja dando um significado ao existir, seja fazendo resinificar as
próprias escolhas. Não se pode confundir ausência com necessidade e nem carência com
preenchimento. O que está em jogo é o valor de si mesmo e a perspectiva que tem
do próprio futuro. O maior inimigo de uma vida equilibrada e que encontre a via
apropriada é a ansiedade, assim como a pressa e a mania de dar satisfação. A realização não está no complemento, mas na
capacidade de si encontrar consigo mesmo.