QUARESMA: conversão e
missão
Por Pe. Jorge Ribeiro
Com o apelo incisivo
e magistral do profeta Joel, “rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus” (Jl
2, 13), dá-se inicio a liturgia do tempo quaresmal, um apelo à conversão
profunda e sincera, pois esse é o tempo oportuno, o tempo da graça, o tempo
favorável para a mudança, mas esse tempo se chama hoje, por isso o Apóstolo
Paulo brada em gritos lacrimejantes: “Em nome de Jesus Cristo nós vos
suplicamos, deixai-vos reconciliar com Deus” (2Cor 5, 20), isto é, que é agora
o momento da salvação. A justificativa é que Deus não quer a morte do pecador,
mas que se converta e viva. Deus é o Deus da vida, o Deus se sente glorificado
pela pessoa viva, capaz de escolher o bem e de assumir a sua responsabilidade
pessoal e social.
A Quaresma é esse tempo preparatório
em que os cristãos buscam confrontar os seus caminhos com o caminho do Mestre,
ajustar sua rota com as indicações do Senhor. O Deus de Jesus Cristo e Nosso,
não é um Deus vingativo e não se alegra com a perda de nenhum de seus filhos,
mas é o Deus misericordioso e compassivo, o Deus que acolhe o gemido e o
perdido de perdão dos filhos arrependidos. As ações espirituais, pastorais e
sociais que os cristão devem realizar na Quaresma, são gestos de desejo
profundo de convergir a própria vida pessoal e social segundo os planos do
Senhor, Ele que é capaz de nos dar sempre um coração novo, capaz de amar, de cantar
a alegria de encontrar a salvação (SALMO 50) e de sentir uma sincera e profunda
compaixão, especialmente pelos mais feridos e necessitados da comunidade (cfr.
Lc 10, 33-34).
A Quaresma também é oportunidade para
que os crentes refaçam sua ação na vivência da própria fé, isto é, que elimine
todo ranço de vaidade, publicização e exuberância dos atos de fraternidade e
solidariedade, pois a relação de compaixão, traduzida no gesto evangélico da
caridade e do serviço ao próximo, deve ser realizada a partir da interiorização
do amor misericordioso de Deus e, portanto, deve ser praticado como tradução
duma fé encarnada e como sinal de profunda conversão, assim, deve ser vivida no
silêncio e no oculto, “teu Pai que vê o que está oculto (secreto) te dará a
recompensa” (Mt 6, 16) e, portanto, a caridade, assim como a oração e o jejum,
não devem ser feitos para ser vistos ou reconhecidos, senão não tem valor
perante a presença de Deus, mas na vivência silenciosa do encontro de cada
pessoa como o próximo, como fez o “bom samaritano” (Lc 10).
A Quaresma é como se fosse a concretização do projeto
dos cristãos de fazerem o caminho de volta à casa do Pai, e por isso mesmo,
devem purificar o coração e a mente, para que sua experiência religiosa possa
ajudar a crescer e melhorar como filhos e filhas de Deus e membros da
comunidade, numa perspectiva de que as ações sejam traduções duma experiência de
comunhão com o Deus Vivo, que continuamente se apresenta perante nós, na face
do próximo, que por tantas vezes caído à margem das periferias da vida, clama
por justiça, ajuda e compaixão. Esse é o tempo favorável, não percamos a
oportunidade de nos purificarmos nas aguas profundas da oração sincera com o
Pai, da renúncia de tudo que nos impede de sermos livres e serenos e,
sobretudo, de nos reerguermos nas força da caridade, como fruto da compaixão e
duma busca autêntica de conversão. Somente
os convertidos, isto é, os que tem um coração capaz de acolher com compaixão e
cuidar do próximo, podem realizar a missão, como continuação de Jesus, que
passou fazendo o bem.