VIVER E' PERIGOSO!!

VIVER E' PERIGOSO







                                                                                             (Foto:Cartier Bresson)

Zurique - Cartas de amor são ridículas. Mas inevitáveis . Falam mais das impossibilidades, dos desencontros, das alegrias, das angústias  de que são feitas as relações, do que qualquer  telefonema, facetime ou a satisfação de um desejo desajeitado. E nem vou citar Pessoa para não cair no óbvio. Porque os sentimentos são feitos de impossibilidades, nada mais. Impossibilidade de voltar no tempo, impossibilidade de ser diferente, de esperar, de não desejar, de ter paciência, de acreditar no que ainda não existe, de não acreditar, de não querer e de não sofrer pelas mil e uma impossibilidades.

Recentemente me lembrei dos amores jovens, dos casais que conheci e acompanhei e escrevi: « Os amores jovens aos 20 anos me emocionam, são terríveis, puro desespero, marcam a ferro a memória, lindos e imperturbáveis, presos na tragédia cotidiana de nunca alcançarem, nem mesmo na banalidade espetacular de uma família feliz, suas promessas mais loucas de amor eterno e imensurável. Sangue e lágrimas jorram em pequenos apartamentos, carros emprestados, ônibus, cartas, canções, fugas, telefonemas, poemas, de tudo um pouco mais. Penso em mim, nos amigos, nos amores feitos e desfeitos, eternos na sua trágica pureza, de nunca alcançarem a si mesmo nem ao outro. »
E, por isso hoje me pergunto, existe amor maduro ? Existe amor tranquilo? Ou é sempre  essa conhecida urgência, essa impaciência, que não aceita limites, que não conhece a si mesmo, que promete o que não pode nem nunca poderá, a espera, a calma, a aceitação. É possível  ter controle quando a cabeça não manda mais? Quando se promete respeitar o tempo, mas o tempo nos atropela e desmente ?
Não sei, e talvez ninguém nunca saberá. Pois é exatamente essa certeza que tira das paixões o que lhes é mais sincero, a incerteza. Mas deve ser possível sair do plano das dúvidas para algo além de uma realidade simples e desleal. Deve haver um caminho do meio, onde as dúvidas sejam substituídas por pequenas certezas diárias, buscadas e construídas com cuidado, sem fantasias, falsas esperanças ou bruscas despedidas. Entre o príncipe de cavalo branco e o ogro de terno e gravata, deve haver algo mais. Entre a princesa de lindos cabelos longos e a bruxa de avental, deve haver alguém real.

A construção de uma história de amor é algo muito delicado, exige urgência e devoção, risco e calmaria, ímpeto e paciência. Quem não aceitar tudo isso, que não se arrisque. Como dizia o grande Rosa, « viver é muito perigoso… Porque aprender a viver é o que é o viver mesmo… Travessia perigosa, mas é a da vida. » E para a maioria de nós, vida sem amor não é vida. Independente da forma que ela assuma.
E muito das relações ainda é amizade, respeito pela distância, de se saber próximo, muito próximo, mas nunca o suficiente para determinar os limites do outro. Cada um define seus próprios limites e a aceitação das regras é necessária à sobrevivência da emoção. Respeitar o tempo do outro. O resto é risco. E disso ninguém tem controle, nem nunca deveria. Pois é a essência do querer, poder perder-se. Pular no precipício dos próprios desejos e medos mais profundos. Quem nunca arriscou?
Coitado daquele que nunca se desesperou. Não perdeu a hora nem o rumo, não quis apressar o passo e inverter a ordem das coisas. Coitado de quem nunca trocou cartas, bilhetes, mensagens tão incompletas quanto toda ausência. Toda espera é mérito. Toda distância é feita de dúvidas, o tempo de buscas, de ansiedades, da vontade de completar-se, da ânsia do encontro, sem nunca se ter certeza  do limite entre o possível e o impossível.
E mais uma vez, o velho Rosa, « Esperar é reconhecer-se incompleto. »
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Tudo o que é essencial para nós

Tudo o que é essencial para nós



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Um dia perceberemos que o essencial da vida é apenas vivê-la, dos pequenos gestos, das pequenas coisas que ela nos oferece, daquela brisa matinal que renova nossa alma, ou, simplesmente, daquele toque carinhoso que afaga nosso rosto. Talvez viver um dia após o outro seja loucura, pois, talvez duremos mais do que imaginamos e para enfrentarmos isso, precisamos de planos. Façamos então esses planos.

Um dia saberemos que devemos viajar, conhecer pessoas novas, sair do nosso mundinho e também aprenderemos a nunca abandonar nossos sonhos, porque uma pessoa sem sonhos, sem metas, é uma pessoa amarga, que nunca lutou e nunca vai lutar por seus objetivos.

Um dia vamos descobrir que vivemos em meio a dúvidas e devemos saber tomar a decisão correta, porém um dia vamos saber que a decisão correta, nada mais é, do que nosso próprio destino. Sim, acredite em destino, pois, cada um tem o seu e ele é divino. Consideremos o destino uma dádiva de Deus, mais, tenhamos vidas corretas para recebê-la. Temos que aprender que nada é por acaso, nada, e devemos sempre estar atentos a todas as oportunidades que renovarão a nossa vida, pois só assim encontraremos um sentido para continuar respirando. Encontre o seu sentido e encha o seu peito de alegria!

Um dia vamos descobrir que todos os políticos são mulherengos, um conjunto de políticos gera uma corrupção e dela somos nós os prejudicados.
Também vamos descobrir que a guerra não é vontade de todos, mais se um cidadão a quiser, veremos mais uma vez uma batalha covarde e insensata, onde inocentes morrem e a luta que a engloba é por puro interesse capitalista, ou seja, nojento.

Um dia desses vamos descobrir que beleza não é tudo, é só uma primeira impressão, que muitas vezes nos conforta, mais na maioria delas nos maltrata.
A beleza real está em poder trocar palavras, trocar olhares, trocar sorrisos, trocar carinhos e doar o tom necessário de abraços, um dentro do cinema, ao ver um filme, aquele apaixonado de reencontro, aquele triste de despedida, aquele de amigo, aquele de criança, simples, apertado e sincero, aquele de amantes, que deixa fluir todo o sentimento existente um pelo o outro. Ainda vamos aprender que não devemos ler revistas de beleza, pois elas só mostram o quanto nós somos feios, nos padrões impostos por elas e pela sociedade superficial.

Um dia aprenderemos a ser mais profundos uns com os outros, eliminando aquele sentimento de inveja e toda a falsidade recíproca do mundo de hoje.
Um dia aprenderemos que podemos mudar o mundo, basta darmos o primeiro passo. Aprenderemos ainda, que as palavras têm poder e devemos utilizá-las para o bem das pessoas, para criticar o que está errado e torná-lo certo.
Sim, aprenderemos que as palavras podem fazer rir, chorar, e, o mais importante, podem fazer apaixonar, e isso é fantástico.

Um dia aprenderemos que os livros de auto-ajuda só dizem o que queremos ouvir e o que pode nos confortar ainda mais, concretamente, é realizar o que precisamos para viver, para pensar, para dar sentido a nós mesmos.

Um dia saberemos que amar é necessário, é encantador, é o que nos deixa perdidos, é o que nos faz feliz, é o que nos faz chorar, muitas vezes é o que nos deixa ansiosos, mais, melhor do que tudo no mundo, é o que nos completa. Devemos fazer acontecer, procurar encontrar um amor e quando o encontrarmos, que nossas vidas se tornem mais completas e aquele ar que faltava em nosso peito, volte a nos fazer respirar, pois o amor encanta a alma e é a única coisa que pode nos fazer mudar de rumo ou até mudar o mundo.

Um dia ficaremos tristes, sem saber o porquê, e quando olharmos na janela, veremos que lá fora chove, é apenas quarta-feira e ainda são quatro e pouco da tarde. E quando bater aquela saudade, daquela pessoa tão especial, a melhor maneira de estar com ela, é fechar os olhos, aumentar a música e lembrar de cada expressão do seu rosto, pois a cada vez que fechamos os olhos, melhor vemos e melhor nos concentramos, daí percebemos o quanto nossa vida é especial e o quanto devemos cultivá-la para o nosso bem.
Quem cultiva sua vida para o bem, sempre terá o bem em sua vida.

Um dia aprenderemos que o quanto mais esperamos aquela ligação, mais ficamos tristes e pensamos coisas erradas, e, o que devemos fazer, é não esperar por ela, talvez tomando a atitude de ligar ou talvez, sem motivo, esquecer dela por um tempo, pois, quando estivermos ocupados e com um monte de coisas na cabeça, receberemos a tão esperada ligação e ela nos deixará com um sorriso extremamente bobo e apaixonante. Espere acontecer ou então faça acontecer!

Um dia entenderemos que os conselhos são para o nosso bem e a pessoa que nos aconselha quer a nossa felicidade. Mais devemos tomar cuidado com as pessoas falsas, pois seus conselhos só querem nos destruir.

Um dia entenderemos porque nossos pais não nos emprestam o carro ou porque eles pegam tanto no nosso pé, mais um dia também saberemos e veremos, que a luta deles por nossa felicidade é constante e basta a todos nós agradecê-los de alguma forma, talvez com um abraço, um beijo ou um simples eu te amo.
Beijos são ótimos, devemos beijar sempre, é o melhor remédio contra o stress e o melhor remédio contra a carência dos nossos corações solitários.

Um dia você beijará um homem que te deixe apaixonada, um dia você beijará uma mulher que te deixe apaixonado, o nome dela pode ser diferente, talvez Núria, mais não menos encantador, lindo e não menos empolgante, pois quando descobrirmos do que ela é capaz, o porquê dela ser tão carismática, algo novo e maravilhoso irá acontecer em nossas vidas. Devemos ir a fundo e procurar tirar todas as coisas possíveis dessa maravilhosa peça que o destino nos pregou.

Um dia aprenderemos que toda pessoa que entra em nossa vida, deixa algo da vida dela e também leva algo da nossa, por isso devemos nos portar bem e procurar tratar todas as pessoas de forma amiga e dar a elas somente coisas boas da nossa vivência, pois assim teremos a consciência de que fizemos o bem e o bem preenche a vida das pessoas de uma forma maravilhosa.

Um dia teremos uma crise de raiva, uma de riso, uma de choro, uma de ansiedade, mais perceberemos que todas elas são passageiras, guardar rancor só nos torna mais duros, rir demais muitas vezes é desespero, chorar demais é amargura e ansiedade demais nos deixa completamente diferentes, irritados, por isso, vamos deixar que passe, pois tudo passa em nossas vidas e para viver bem, vivamos um dia de cada vez, tranqüilamente, deixando as coisas acontecerem e devagar perceberemos que a melhor maneira de viver não existe, pois, a vida de todos nós é baseada em momentos, tristes e alegres, e o que existe e é maravilhoso, é que temos força para tudo, para lutar, para fazer acontecer, para melhorar nossa vida em tudo o que importa, para cada um de nós, mais sempre lembrando, que façamos uma coisa de cada vez.

Por Gabriel Lemes Araújo – ferrariaraujo@hotmail.com
estudante de publicidade e propaganda, um homem apaixonado pela escrita e principalmente pela arte da vida.
 

A re-humanização da humanidade

A re-humanização da humanidade

Em dezembro de 2013, presenciamos dois eventos de enorme impacto – o primeiro foi o aniversário do tiroteio de Sandy Hook e o segundo, a morte de Nelson Mandela. Ambos eventos, posicionados em um contexto de morte, são opostos um ao outro. Um foi uma triste memória de um mundo quebrado pela doença mental e violência. O outro foi o reconhecimento de uma vida em prol da dignidade humana. E é nessa tensão entre a dignidade e a fragilidade que todo humano nesse planeta vive, tentando encontrar um sentido em tudo isso.

Que é o Homem?

O salmo 8 representa uma ilha de esperança no Velho Testamento e atesta essa tensão tão real. É uma canção de Davi em que o autor reflete acerca da dignidade humana em face da fragilidade da humanidade. Os versos 4 a 8 dizem:
 “Que é o homem, que dele te lembres e o filho do homem, que o visites? Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que Deus e de glória e de honra o coroaste.
Deste-lhe domínio sobre as obras da tua mão e sob seus pés tudo lhe puseste: ovelhas e bois, todos, e também os animais do campo; as aves do céu, e os peixes do mar, e tudo o que percorre as sendas dos mares”.
Note algumas coisas que esse Salmo ensina:
  1. Apesar da fragilidade do homem e seu tamanho minúsculo se comparado aos pores do sol e extensões das montanhas, Deus o deu dignidade. Deus está atento ao homem.
  2. Sobre todas as criaturas, Deus escolheu o homem para carregar a imago dei, a imagem de Deus. O Senhor coroou o homem com glória e com honra.
  3. O homem foi designado por Deus para administrar a criação. O propósito de Deus para a criação foi de que todas as coisas estariam submetidas à humanidade.
Essas são três promessas maravilhosas sobre a capacidade e o plano para a humanidade. Mas, ao olharmos para o mundo e para a história humana, encontramos essas três coisas se concretizando?

 Um investigação CSI: Mundo

Ao consideramos a humanidade no laboratório forense de nossos corações e mentes, encontramos uma história bem diferente acontecendo. Apesar das promessas de dignidade, a fragilidade parece constantemente ganhar o dia. Tentações abundam. O pecado flui excessivamente.  As notícias nos apontam repetitivamente para assassinatos e corrupção, enquanto nossas vidas diárias produzem montanhas de descontentamento, desapontamento e descrença. Por favor, note que eu não estou pretendendo ser macabro. Estou, entretanto, procurando o realismo que apenas o Cristianismo pode dar. O autor de Hebreus segue essa linha de pensamento em Hebreus 2.8, em que considera o salmo 8 e diz:
“Todas as coisas sujeitaste debaixo dos seus pés. Ora, desde que lhe sujeitou todas as coisas, nada deixou fora do seu domínio. Agora, porém, ainda não vemos todas as coisas a ele sujeitas”
O autor de Hebreus obviamente tinha uma propensão para o eufemismo. Nós ainda não vimos nenhum homem como um mordomo totalmente livre dominando sobre a criação como um representante da imago de Deus. Na verdade, vemos o oposto. Pecamos, e o pecado facilmente nos envolve (Hb 12.1). O que queremos fazer além da nossa capacidade e as coisas que odiamos por muitas vezes aparecem como nossa experiência habitual (Rm 7). Nos encontramos ansiando sem resposta por uma dignidade definitiva e pela liberdade da fragilidade. Mas a intenção de Deus nunca foi para que o homem caído retirasse a si mesmo de sua própria corrupção. Dignidade e fragilidade encontrariam reconciliação de outra forma bem mais radical e custosa.

 Nós vemos Jesus

O autor de Hebreus leva seu processo de pensamento teológico a uma conclusão ao nos dizer que, como não vemos a mudança que procuramos em nossas próprias vidas, vemos sim a Ele:
“Vemos, todavia, aquele que, por um pouco, tendo sido feito menor que os anjos, Jesus, por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todo homem” (Hb 2.9).
Deus soluciona a tensão do salmo 8 de uma forma totalmente inesperada. O Deus da criação reconcilia a dignidade e fragilidade humanas na encarnação de seu filho, Jesus Cristo. Na edição do “Comentário do uso do Novo Testamento no Velho Testamento” de DA Carson e GK Beale, lemos:
“Cristo, então, em sua solidariedade para com os seres humanos, foi capaz de trazer a realização completa da intenção do salmo… Ao adicionar humanidade à sua deidade através da encarnação, Cristo se juntou a nós em nossa fragilidade, nossa pequenez frente ao escopo da vasta criação. Ele se moveu de sua atmosfera pré-encarnada de poder e autoridade que empunha ao criar o mundo e assumiu um lugar menor na ordem criada. A fragilidade consequente desse movimento foi finalizada na morte do Filho por todos (Hb 2:8-9). Ainda assim, por causa do sofrimento e da morte, ele foi “coroado em glória e honra”, nas palavras do salmo. A dignidade dos humanos, garantida a Adão em seu lugar no mundo, vem ao completo cumprimento e expressão no Filho enquanto ele é feito Senhor de todas as coisas, todas as coisas sendo colocadas debaixo de seus pés”.
Jesus, como verdadeiramente Deus e homem, é também verdadeiramente digno e frágil. Ele é tanto Deus quando a imago de Deus. Ao provar a morte por aqueles que colocariam a sua fé nele, ele traça um caminho para que pecadores façam parte da intenção original de Deus para a humanidade, conforme expressa no salmo 8. Se a queda de Adão é o grande evento desumanizador na história humana, então, a encarnação do segundo Adão e sua subsequente morte e ressurreição é o re-humanizador daqueles que encontram salvação nele.

 O que fazer

1. Admita a fragilidade da experiência humana. Discussões próximas ao Natal são um bom momento para se conectar com as vidas machucadas e quebradas a nossa volta. Apesar da sua aparência comemorativa, feriados festivos são algumas das épocas mais penosas para um grande segmento da nossa sociedade. A maioria das pessoas está procurando desesperadamente por alguém com quem passa ser tranparente acerca de suas dificuldades. O cristianismo nos permite dizer francamente: “as coisas (ainda) não estão da maneira como deveriam ser”.

2.  Admita o que você vê quando você se olha. Como o autor de Hebreus diz, se estivéssemos trabalhando com evidências forenses, ao olharmos para nós mesmos, não veríamos a dignidade que desejamos. Não vemos a mudança pela qual oramos. Certamente, pela providência e ao longo do tempo, nós experimentamos a santificação da graça de Deus. Mas, quando olhamos para nós mesmo, sempre percebemos uma falta.
3. Olhe para Jesus. Esse é o maior ponto do autor de Hebreus. Pare de olhar para si mesmo para completar o que diz o salmo 8. Deus queria que Jesus fizesse isso. Apenas ele, em sua encarnação, abarca os requisitos necessários para se alcançar a salvação. Apenas ele, em sua fragilidade, pôde testar a morte e apenas ele foi digno de conquistá-la.
4. Viva dessa verdade. Se nós podemos, pela graça de Deus, começar a olhar menos para nós mesmos e mais para Jesus, então começaremos a mudar. Começamos a viver uma vida conforme o evangelho (Gálatas 2.14) ao sermos transformados na imagem daquele homem coroado com glória e honra, ainda Jesus (2 Co 3.18).

O papel do Homem na Familia

O papel do homem na família



O homem, o pai, representa a figura de Deus na família 
O Catecismo da Igreja ensina que a família é um “sinal da Santíssima Trindade” na Terra; assim, pai, mãe e filhos formam uma comunidade de vida e de amor à imagem de Deus. Por isso, a família é fundamental e insubstituível. Ela é a base de todo plano divino. O homem, o pai, representa a figura de Deus, Seu exemplo e bondade, mas também a firmeza d’Ele, que deve levar os filhos a terem, por analogia, uma visão bela do Senhor, que é amoroso, honesto, puro e desapegado.
O papel do homem na família
A criança precisa ter um pai e uma mãe para poder firmar sua personalidade masculina ou feminina diante da figura paterna e materna. O pai é, sobretudo para os meninos, um modelo de vida, um ponto de segurança e estabilidade. Para a esposa, ele é segurança; ela gosta de “apoiar-se” nele, consolar-se em seus ombros. A mulher chora com facilidade, mas estremece quando vê o homem chorar.
O Papa Paulo VI disse que o marido é a cabeça do casal e a esposa é o seu coração. Ele tem o primado da razão, e ela o do coração. São Paulo pediu aos maridos: “amai as vossas mulheres como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela” (Ef 5,25). Então, o marido deve estar pronto a gastar a sua vida pelo bem da sua esposa e dos seus filhos. Já que ele é a cabeça da família, deve estar pronto para todo sacrifício, a fim de que ela seja feliz.
Para isso, ele terá, antes de tudo, de ser um homem fiel à sua esposa em pensamentos, palavras e atos, para que a sua união com ela seja forte e indissolúvel. Qualquer resvalada nisso pode desmoronar o lar.
Um adultério é um câncer na vida conjugal e, na maioria das vezes, é praticado pelo homem. Então, ele precisa ter a graça de Deus para vencer toda fraqueza da carne. Não se esquecer jamais do que Jesus disse: “Vigiai e orai, o espírito está pronto, mas a carne é fraca”. O homem jamais pode brincar com isso e dar-se a “facilidades” com outras mulheres que não seja a sua. Ele precisa vigiar o tempo todo, policiar-se em cada ambiente, sobretudo quando está só. A família é sagrada e não pode correr riscos de dissolução.
Victor Hugo disse que “o homem é a mais elevada das criaturas de Deus, mas a mulher é o mais sublime dos ideais. Deus fez para o homem um trono; para a mulher, um altar. O homem é o cérebro; a mulher, o coração. O cérebro produz a luz; o coração produz o amor. A luz fecunda; o amor ressuscita.
O homem é um gênio; a mulher é um anjo. O gênio é incomensurável; o anjo, indefinível. A aspiração do homem é a suprema glória; a aspiração da mulher a virtude extrema. A glória promove a grandeza; a virtude, a divindade. O homem tem a supremacia; a mulher, a preferência. A supremacia significa a força; a preferência, o direito.
O homem é forte pela razão; a mulher, invencível pelas lágrimas. A razão convence; as lágrimas comovem. O homem é capaz de todos os heroísmos; a mulher de todos os martírios. O heroísmo nobilita; o martírio purifica. O homem é o código; a mulher, o Evangelho. O código corrige, o Evangelho aperfeiçoa. O homem é o templo; a mulher, o sacrifício. Ante o templo, nos descobrimos; ante o sacrário, nos ajoelhamos. O homem pensa; a mulher sonha. Pensar é ter uma larva no cérebro; sonhar é ter na fronte uma auréola.
O homem é o oceano; a mulher o lago. O oceano tem a pérola que adorna; o lago, a poesia que deslumbra. O homem é a águia que voa; a mulher o rouxinol que canta. Voar é dominar o espaço; cantar é conquistar a alma. O homem tem um farol: a consciência; a mulher, uma estrela: a esperança. O farol guia; a esperança salva. Enfim, o homem está colocado onde termina a Terra; a mulher onde começa o Céu”.
Tudo isso mostra que Deus fez homem e mulher um para o outro, e ambos precisam um do outro. E os filhos precisam de ambos.

Parmênides: Da natureza

Parmênides: Da natureza

Os fragmentos abaixo fazem parte de um poema original intitulado Da Natureza e sua permanência, escrito pelo filósofo pré-socrático (classificado como tal, apesar de ter vivido mais ou menos na mesma época de Sócrates) Permênides de Eleia, e que influenciou inúmeros filósofos a partir do século IV a.C. até – mesmo que desapercebidamente – os dias atuais.
Esta tradução foi compilada por José Trindade Santos no livro homônimo lançado pelas Edições Loyola – e que recomendo a leitura para uma análise mais aprofundada, embora estritamente “filosófica científica”. Talvez não seja simples interpretar um poema fragmentado, mas certamente podemos ao menos intuir do que chegou até nós que Parmênides praticamente inaugurou a ontologia (a filosofia do ser). Além disso, se Espinosa por acaso não leu tal poema antes de compor sua Ética, devemos considerar que chegou a conclusões muito próximas mais de um milênio após o filósofo antigo.
Pois que quando Parmênides sabiamente resume que “o Ser é, o Não-ser jamais poderia haver sido”, está apenas refletindo sobre o mesmo tema que seria posteriormente desenvolvido na “Substância que não pode criar a si mesma, pois que é tudo o que é e foi e será” de Espinosa... Qualquer semelhança com filosofias ainda mais antigas, vindas do Oriente e, sobretudo, de algum canto do Egito, talvez não seja mera coincidência. Portanto, saboreiem com atenção:
Fragmento 1
Os corcéis que me transportam, tanto quanto o ânimo de impele, conduzem-me, depois de me terem dirigido pelo caminho famoso da divindade, que leva o homem sabedor por todas as cidades.
Por aí me levaram, por aí mesmo me lavaram os habilíssimos corcéis, puxando o carro, enquanto as jovens mostravam o caminho.
O eixo silvava nos cubos como uma siringe, incandescendo (ao ser movido pelas duas rodas que vertiginosamente o impeliam de um e de outro lado), quando se apressaram as jovens filhas do sol a levar-me, abandonando a região da Noite para a luz, libertando com as mãos a cabeça dos véus que a escondiam.
Aí está o portal que separa os caminhos da Noite e do Dia, encimado por um dintel e um umbral de pedra; o portal, etéreo, fechado por enormes batentes, dos quais a Justiça vingadora detém as chaves que os abrem e fecham.
A ela se dirigiram as jovens, com doces palavras, persuadindo-a habilmente a erguer para elas por um instante a barra do portal. E ele abriu-se, revelando um abismo hiante, enquanto fazia girar, um atrás do outro, os estridentes gonzos de bronze, fixados com pregos a cavilhas. Por ali, atrás do portal, as jovens guiaram com celeridade o carro e os corcéis.
E a deusa acolheu-me de bom grado, mão na mão direita tomando, e com estas palavras se me dirigiu: “Ó jovem, acompanhante de aurigas imortais, tu, que chegas até nós transportado pelos corcéis, Salve! Não foi um mau destino que te induziu a viajar por este caminho – tão fora do trilho dos homens –, mas o Direito e a Justiça. Terás, pois, de tudo aprender: o coração inabalável da realidade [ou “da verdade”] fidedigna e as crenças dos mortais, em que não há confiança genuína. Mas também isso aprenderás: como as aparências têm de aparentemente ser, passando todas através de tudo”.
Fragmentos 2-5
Vamos, vou dizer-te – e tu escuta e fixa o relato que ouviste – quais os únicos caminhos de investigação que há para pensar: um que é, que não é para não ser, é caminho de confiança (pois acompanha a realidade); o outro que não é, que tem de não ser, esse te indico ser caminho em tudo ignoto, pois não poderás conhecer o não-ser, não é possível, nem indicá-lo [...]
o mesmo é pensar e ser
[...] pois o mesmo é pensar e ser.
Nota também como o que está longe pela mente se torna firmemente presente: pois não separarás o ser de sua continuidade com o ser, nem dispersando-o por toda a parte segundo a ordem do mundo, nem reunindo-o.
[...] para mim é o mesmo por onde hei de começar: pois aí tornarei de novo.
Fragmento 6
É necessário que o ser, o dizer e o pensar sejam: pois podem ser, enquanto o nada não é: nisto te indico que reflitas.
Desta primeira via de investigação te [afasto], e logo também daquela em que os mortais, que nada sabem, vagueiam, com duas cabeças: pois a incapacidade lhes guia no peito a mente errante; e são levados, surdos ao mesmo tempo que cegos, aturdidos, multidão indecisa, que acredita que o ser e o não-ser são o mesmo e o não-mesmo, para quem é regressivo o caminho de todas as coisas.
Fragmentos 7-8 [1]
Pois nunca isto será demonstrado: que são as coisas que não são; mas afasta desta via de investigação o pensamento, não te force por esse caminho o costume muito experimentado, deixando vaguear olhos que não veem, ouvidos soantes e língua, mas decide pela razão a prova muito disputada de que falei.
Só falta agora falar do caminho que é. Sobre esse são muitos os sinais de que o ser é ingênito e indestrutível, pois é compacto, inabalável e sem fim; não foi nem será, pois é agora um todo homogêneo, uno, contínuo. Com efeito, que origem lhe investigarias? Como e onde se acrescentaria? Nem do não-ser te deixarei falar, nem pensar: pois não é dizível, nem pensável, visto que não é. E que necessidade o impeliria a nascer, depois ou antes, começando do nada?
E, assim, é necessário que seja de todo, ou não.
Nem a força da confiança consentirá que do não-ser nasça algo ao pé do ser. Por isso nem nascer, nem perecer, permite a Justiça, afrouxando as cadeias, mas sustém-nas: esta é a decisão acerca disso – é ou não é –; decidido está então, como necessidade, deixar uma das vias como impensável e inexprimível (pois não é via verdadeira), enquanto a outra é a autêntica.
Como poderia o ser perecer? Como poderia gerar-se? Pois, se era, não é, nem poderia vir a ser.
E assim a gênese se extingue e da destruição não se fala.
é todo cheio de ser e por isso todo contínuo
Nem é divisível, visto ser todo homogêneo, nem num lado é mais, que o impeça de ser contínuo, nem noutro menos, mas é todo cheio de ser e por isso todo contínuo, pois o ser é com o ser.
Além disso, é imóvel nas cadeias dos potentes laços, sem princípio nem fim, pois gênese e destruição foram afastadas para longe, repelidas pela confiança verdadeira.
O mesmo em si mesmo permanece e por si mesmo repousa, e assim firme em si fica. Pois a potente Necessidade o tem nos limites dos laços, que de todo o lado o cercam.
Pois não é justo que o ser seja incompleto: pois não é carente; ao [não-]ser, contudo, tudo lhe falta. O mesmo é o que há para pensar e aquilo por causa de que há pensamento.
Pois, sem o ser – ao qual está prometido –, não acharás o pensar. Pois não é e não será outra coisa além do ser, visto o Destino o ter amarrado para ser inteiro e imóvel. Acerca dele são todos os nomes que os mortais instituíram, confiantes de que eram reais: “gerar-se” e “destruir-se”, “ser” e “não ser”, “mudar de lugar” e “mudar a cor brilhante”.
Visto que tem um limite extremo, é completo por todos os lados, semelhante à massa de uma esfera bem rotunda, em equilíbrio do centro a toda a parte; pois, nem maior, nem menor, aqui ou ali, é forçoso que seja.
Pois nem o não-ser é, que o impeça de chegar até o mesmo, nem é possível que o ser seja maior aqui, menor ali, visto ser todo inviolável: pois é igual por todo o lado, e fica igualmente nos limites.
Nisso cesso o discurso fiável e o pensamento em torno da verdade; depois disso as humanas opiniões aprende, escutando a ordem enganadora das minhas palavras. E estabeleceram duas formas, que nomearam, das quais uma não deviam nomear – e nisso erraram –, e separaram os contrários como corpos e postaram sinais, separados uns dos outros: aqui a chama do fogo etéreo, branda, muito leve, em tudo a mesma consigo, mas não a mesma com a outra; e a outra também em si contrária, a noite sem luz, espessa e pesada.
Esta ordem cósmica eu te declaro toda plausível, de modo algum que nenhum saber dos mortais te venha transviar.
Fragmentos 9-11
Mas, uma vez que tudo é chamado luz ou noite e o conforme a estas potências é dado a isto e aquilo, tudo é igualmente cheio de luz e de noite obscura, ambas iguais, visto cada uma delas ser como nada.
E conhecerás a natureza do éter e no éter de todos os sinais e dos raios da pura lâmpada do sol as obras destruidoras, e de onde nascem, e conhecerás as obras que rodam em torno da lua de olho redondo e a sua natureza, e saberás do céu que os tem à volta, e de onde nasce, e como guiando-o a Necessidade o obriga a conter os limites dos astros.
[...] como a terra e o sol e a lua e o éter que a tudo é comum e a Via-Láctea e o Olimpo extremo e o calor ardente dos astros forçados a nascer.
Fragmentos 12-13 [2]
Pois as coroas mais estreitas enchem-se de fogo sem mistura e as que vêm à noite depois destas, mas com elas lança-se uma parte de chama.
em tudo comanda o parto e a mistura
No meio delas está a divindade que tudo governa; pois em tudo comanda o parto doloroso e a mistura, impelindo a fêmea a unir-se ao macho, e ao contrário o macho à fêmea.
Primeiro que todos os deuses, concebeu Eros.
Fragmentos 14-16
Facho noturno, em torno à terra, alumiado a uma alheia luz. Sempre à espreita dos raios do sol.
(15a [Nota posterior]: Parmênides no poema diz que “a terra tem raízes na água”.)
Pois, tal como cada um tem mistura nos membros errantes, assim aos homens chega o pensamento; pois o mesmo é o que nos homens pensa, a natureza dos membros, em cada um e em todos; pois o mais [pleno] é o pensamento.
Fragmentos 17-19
À direita os machos, à esquerda as fêmeas.
Quando a mulher e o homem juntos misturam as sementes de Vênus, a força que se forma nas veias a partir de sangues diversos, mantendo o equilíbrio, gera corpos bem formados.
Se, contudo, misturados os sêmens, as forças se opõem, e não fazem unidade, misturados no corpo, cruéis, atormentam o sexo da criança com o duplo sêmen.
Assim, segundo a opinião, as coisas nasceram e agora são e depois crescerão e hão de ter fim. A essas os homens puseram um nome que a cada uma distingue.

Pra se pensar ....

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