Consciência
Pe. Jorge Ribeiro
A minha consciência é
humana, vai além da cor, da raça e das opções. É válida a comemoração memorável
de Zumbi, Dandara e outros que lutaram e continuam lutando pela libertação e
igualdade entre as pessoas. Também é válida a celebração do orgulho negro e seu
status valorativo. O incômodo é o uso político e banal da data para uma
imposição comercial e provocar uma cisão ainda maior no substrato social
brasileiro. Não se pode conquistar espaço, direitos e valores fomentando uma luta de classes e, pior ainda,
querer invertes a “lesionada” situação por meio de outra ditadura. Em certos
discursos e atitudes parece uma exigência que se adeque ou se autoproclame
parte de alguma minoria para ser bem quisto na sociedade. Não precisa
declaração e muito menos manifestações públicas para se respeitar os direitos e
atuar de maneira tolerante com os diferentes. O que se deve buscar é o
essencial e lutar pelo crescimento da pessoa em todas as suas dimensões,
independentemente de raça, cor, etnia ou razão social. A declaração e a
implantação dos direitos de uns não pode ser em detrimento ou negação dos
direitos de outros.
O direito por igualdade
de oportunidades e a sensibilidade solidária para com os menos favorecidos deve
ser o fundamento das lutas e dos valores. O discurso de empoderamento não pode
subverter a ordem e criar outros tipos de ditaduras e exclusões, mas favorecer o
acolhimento solidário. O reconhecimento dos valores não tem cor e nem raça. A
pessoa humana é humano independente de carácteres pessoais, sociais ou
culturais. Certamente existem os débitos históricos e sociais, que devem ser
reparados, mas a pessoa não pode ser reduzida às suas contingências. Essa
consciência humana não pode ser indiferente ou insensível aos gritos e às feridas
que a humanidade tem padecido, para isso a educação precisar ser muito mais igualitária,
que ninguém seja excluído ou preterido a causa de suas diferenças. Ser diferente
é uma realidade e até uma necessidade, mas o problema é ser tratado como
diferente.
O preconceito, o racismo,
a violência e o indiferentismo que estão na base das desigualdades e da intolerância
não se superam com modos subversivos e enraivados de acusar os agentes de instituições,
estruturas, sistemas e modelos culturais. Não é por meio de destruição e
vitimismo que se pode provocar a consciência de uma Nação e fazer mudar sua
maneira de agir. Também não é por meio de cessação dos lugares e dos bens
conquistados ou pelo convencionalismo, mas através do respeito mútuo e da educação
para a tolerância e a civilização fraterna. A dignidade de uma pessoa deve ser
preservada, protegida e reforçada independentemente de suas características físicas, sociais ou geográficas.
Existe sim muito racismo e muita indiferença, assim como prejuízos e acepções. Mas
o que está em jogo é a mudança de mentalidade de um povo e isso não se adquire
com guerra, menosprezo, ódio, insultos ou violência, mas pela educação de cunho
tolerante, pluralista e acessível, porque não há superioridade de raças ou de
povos, mas todos pertencemos à raça humana, logo a consciência não tem delineação,
mas ela é sobretudo humana. O outro, independentemente da sua diferença é outra
pessoa, assim como eu, o que lhe dá direitos e deveres iguais aos meus e nossas
liberdades devem caminhar concomitantemente.