Amigos de sempre e para sempre: Crer apesar de tudo

Amigos de sempre e para sempre: Crer apesar de tudo

Crer apesar de tudo

Na verdade, quem pergunta pelo último fundamento da esperança do homem deve falar daquilo que o próprio homem, em última instância e definitivamente, quer e deve ser.

Mas, isto que mais profunda e propriamente se espera é o que desde sempre se tem designado pelo nome de salvação.

Quando falamos de salvação não se deve pensar em algo especificamente "pastoral", restrito à Teologia (à Teologia dos Novíssimos), alheio à vida de todos os dias. Não, o sentido é totalmente concreto e real: o ser da salvação e o ser-em-plenitude indicam a decisiva e mais profunda satisfação, a posse daquilo que importa para o êxito - não o êxito neste ou naquele particular aspecto, mas o êxito definitivo, que afeta a totalidade da existência, êxito enquanto ser humano. Mas isto - que no sentido mais próprio se espera - pode permanecer intacto e incólume mesmo que se frustre a esperança de paz no mundo, ou a esperança de felicidade nos aspectos exteriores da existência. Mesmo nestes casos pode o homem continuar a esperar no êxito definitivo que se chama salvação: ainda que esteja, talvez, mergulhado em lágrimas e imerso num mar de sofrimentos, pode ele, no entanto, manter firme e imperturbável a esperança definitiva que se refere à totalidade da existência. E ninguém pode negar que isto se dê, ao menos como possibilidade humana.

Tudo isso significa que se deve ter em conta o fato de que o homem que espera com a esperança decisiva, e firmemente a cultiva, apresenta-se de modo diverso daquele que comumente chamamos de otimista.

As palavras otimismo e pessimismo são impróprias para designar o que se expressa com esperança e desespero. A verdadeira esperança, a esperança na salvação (que, só ela, é o puro, simples e profundo esperar humano) pode muito bem conviver não só com variados pessimismos, mas até mesmo com variados desesperos, que se situam, por assim dizer, mais na superfície do ser humano, sem nenhum significado definitivo.

Por outro lado, o desespero (no singular, o puro e simples), que consiste em que a pessoa afasta de si a esperança de salvação, pode também coexistir com diversos otimismos e esperanças, que igualmente permanecem na superfície da alma, sem nenhum alcance mais radical.

Destas considerações (tanto num caso como no outro) decorre algo que na verdade é um tanto inquietante: que não é de modo algum tarefa fácil distinguir - no nível radical e definitivo - quem tem esperança e quem é desesperado. E é possível neste ponto enganar-se também a si próprio.

Cfr. Josepj Pipper, Crer, esperar e amar

Crer no mundo de hoje

[...] Devemos [...] perguntar de um modo mais radical e fundamental que atitude é essa que se manifesta na afirmação de que a existência cristã se exprime, em primeiro lugar e antes de tudo, no verbo «creio», definindo com isso - o que não é nada evidente - que o âmago do cristianismo consiste no facto de ele ser uma «fé». Sem pensar muito, pressupomos geralmente que «religião» e «fé» são a mesma coisa, de modo que qualquer religião pode ser chamada também «fé». Mas essa conclusão só se aplica em sentido muito restrito; em muitos casos, as outras religiões costumam assumir designações diferentes que realçam outros aspectos. O Antigo Testamento, no seu todo, não era entendido como uma ««fé», mas sim como «lei». Ele é em primeiro lugar uma ordem de vida, na qual, no entanto, o acto da fé adquire uma importância cada vez maior. A religiosidade romana, por sua vez, entendeu por religio sobretudo a observância de determinadas formas e praxes rituais. Para ela, não era decisivo que se fizesse um acto de fé em termos sobrenaturais; tal acto poderia mesmo faltar por completo, sem que isso constituísse uma infidelidade à religião: tratando-se basicamente de um sistema de ritos, era natural que a observância cuidadosa desses ritos constituísse o seu elemento decisivo. Poderíamos analisar sob este aspecto toda a história das religiões. Mas o exemplo apresentado já é suficiente para mostrar que não é assim tão evidente que a existência cristã encontre a sua expressão central na palavra «credo», a ponto de designar por meio dela a sua posição frente ao real como atitude de fé. Mas, com isso, a nossa pergunta torna-se ainda mais insistente: que atitude se exprime por meio desta palavra? E mais: porque é tão difícil o nosso eu pessoal associar-se a esse «creio»? Porque nos parece quase impossível transportar o nosso eu actual - cada um o seu, que é distinto do eu do outro - para dentro dessa identificação com o eu predeterminado e preformulado há gerações que faz parte do «eu creio»?

Cfr. Ratzinger Joseph, Introduçao ao Cristianismo, Princiapia

Pra se pensar ....

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