Sobre os oportunismos
Cada vez mais sou
convencido que a banalização e os interesses serão as marcas registradas dessa nossa geração. As
pessoas tem uma sagacidade feroz e encontram até nas situações caóticas os
instrumentos para satisfazerem seus interesses. Agora com essa paralização do
caminhoneiros, por exemplo, os oportunistas se multiplicaram. Desde aqueles que
culpam toda derrocada do país a essa paralisação e àqueles que estão usando
essa situação emergencial para se autopromoverem. Os oportunistas de plantão
são variados e não perdem a oportunidade. Aparecem os bons samaritanos
religiosos para divulgarem a própria crença e sua comunidade, revelam-se os comunicadores políticos para
solucionarem as dificuldades e direcionarem os possíveis apoios aos seus
partidos e candidatos, interagem os múltiplos setores de ideologias que
favorecem ou condenam a ação, mas todos com a perspectiva de elucidar e
angariar adeptos aos seus interesses.
Por um lado se
ignora a crise generalizada que atravessamos e se concentra em alguns fatores
ou aspectos que sejam beneficiários de um modo de ver a realidade, não levando
em conta a total e atual conjectura da nação, mas se afunila de modo
superficial ou banal toda a situação e muitas vezes levando para um caminho
muito pessoal ou particularizado. É preciso compreender todos esses fatores que
levaram ao colapso, o que se projeta por detrás de tal configuração. Quem se
beneficia com essa paralização? Quem perde mais? O sofrimento é da massa obviamente…,
E os oportunistas de plantão, quais recursos e cartadas estão dando para
aproveitar em uso próprio tal realidade? E as entidades e instituições sem
aparentes interesses lucrativos ou ideológicos, que têm proporcionado para um
apoio digno a esses que reivindicam os seus direitos? Tem os curiosos e os
sensacionalistas que oferecem as noticias como espetáculo, sem buscar as razões
e as motivações de tal momento, tem os
indiferentes que somente se incomodam quando tem os seus direitos feridos, tem
os revoltados que tomam partido e se arvoram de reclamar, gritar e não toma
nenhuma posição, e tem os oportunistas que, muitas vezes menosprezando a
condição existencial de quem está envolvido na situação, apenas encontra ai um
meio propicio de se beneficiar e na especulação das necessidades exageram nos
lucros.
O oportunismo é
uma máquina que sem olhar as consequências usa de estratégias para poder
alcançar um proposito. O oportunista percebe chance e possibilidade para poder
se alavancar, seja politico, religioso, financeiro ou ideologicamente. O que o
oportunista quer é se beneficiar. A custo de quem e de que, isso não importa
muito. E o ruim é que muitas vezes se tira proveito da situação sem escrúpulos
e com finalidades torpes. A autopromoção e o uso de situações calamitosas para
criar uma imagem favorável de si ou dos seus interesses é, no mínimo, imoral e
indecente. Pode então se perguntar: melhor fazer algo com interesse do que não
fazer nada? As duas possibilidades estão equivocadas…, a solidariedade e a adesão
a determinadas causas não deveriam ser minadas por outros interesses ao não ser
o de se fazer próximo a quem necessita e que luta por dias melhores. Expurgar
as ideias e os gestos para não cair na pecúnia de querer levar vantagem em
todas as situações seria uma forma bastante realista de superar a corrupção e a
banalização em que nos encontramos mergulhados. Lutemos por mais direitos, mais
valores e mais respeitos, sem fazer das condições básicas para viver dignamente
uma bandeira de projeção oportunista.