Por Jorge Ribeiro
O
sofrimento é fruto do desejo. O desejo almeja ser o que não se é ou ter o que
ainda não possui, e essa projeção, na grande maioria dos casos, acaba por se
tornar uma experiência dilacerante, penosa. É uma experiência dolorosa que se
estende além do circunstancial. O sofrimento se apresenta como solidão que
envolve a pessoa, exilando-a da sociabilidade e de si mesma, pois a afasta do
círculo presencial. Outro modo como a sofrimento se faz atualizado na vida das
pessoas é como angústia, ou seja, como consciência pessoal e intransferível da
própria finitude. A morte aparece no horizonte da pessoa como possibilidade
real, e isso, quando a vida é tomada a sério, provoca angústia, sofrimento. O
sofrimento aparece também com desprazer que causa aviltamento e aniquilamento
no ânimo do sujeito. Experimentar o sofrimento é fazer uma intensa experiência
da dor. Essa é inevitável, enquanto não dependente da própria pessoa para
acontecer, mas o sofrimento que decorre de sua atuação é subjetivo, ou seja,
meramente particular e intrasferível. A essência primordial da pessoa é a
vontade (concordo com Schopenhauer), pois desse âmago nascem os desejos, as
buscas, as determinações, dado que o controle de nossas ações dependem do uso
que se faz da vontade, mas essa também se percebe como imersa na cegueira do
mundo, que é limitada e que não possui controle absoluto da pessoa. Somente
quem busca viver com consciência ou autenticidade padece, maiormente, a
intensidade do sofrimento. O sofrimento é opcional então? Grande parte das
pessoas preferem ignora-lo ou distrair-se, alienando-se em outras experiências
e não encarando a sua realidade. É acolhendo, aceitando e, depois disso, uma
possível superação acontece. Esconder-se em quaisquer paliativos não elimina o
sofrimento, apenas desvia-o numa outra atmosfera. Também a compensação não
resolve o problema do sofrimento, dado que encobre a sua realidade com algo que
oferte uma sensação de serenidade na pessoa. A experiência do sofrimento é
humana, meramente humana (diria Nietzsche), provoca dilaceração, conflitos
entre os indomáveis desejos, mas o sonhado repouso e sentido são possíveis com
o seu acolhimento. É o desejo insaciável do homem que abre uma fenda indomável
em seu ser e sua redenção, isto é, a sua libertação acontece por meio da
abertura ao absoluto, a uma experiência de sentido que fundamenta todos os
sentidos.