Eu recomendo - Elogio da Loucura de Erasmo de Roterdam

O Elogio da Loucura, de Erasmo de Roterdão, mais que uma sátira contra os costumes, é uma obra que propõe conceitos teóricos absolutamente sólidos e originais, ainda que disfarçados de discurso frívolo. O pensamento de Erasmo chega a ter semelhanças notáveis com as concepções propostas no âmbito da neurologia por António Damásio. Assim como Damásio se rebela contra a concepção cartesiana da racionalidade, Erasmo rebela-se contra o estoicismo. Se Descartes opunha a razão à emoção*, em que esta última apenas servia de empecilho na formulação de qualquer julgamento são (ainda que, depois, seguisse o coração na sua prova da existência de Deus), o mesmo faziam os Estóicos. Erasmo propõe, para o bom governo da humanidade e de cada um, que se dê à loucura o seu devido lugar no Panteão dos deuses que guiam os passos humanos. Quase que se assume como a chama de Prometeu. É uma proposta pragmática, de facto. E, paradoxalmente, serve como contra-proposta de si mesma. Porque o pragmatismo é o que é. O pragmático é aquele que bem maneja as unhas para seu proveito. Chamem-no louco.

*"Todas as paixões pertencem à Estultícia", diz a própria Estultícia através da pena de Erasmo.

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