Dimensão comunitária da Esperança cristã
By P. Jorge Ribeiro
A Igreja se apresenta, desde o seu inicio, como a comunidade daqueles
que acreditam em Cristo, o Senhor, e esperam a definitiva manifestação de sua
gloria no fim dos tempos. Segundo São
Paulo, os elementos que constituem a unidade e seu fundamento são (cfr. Ef 4,
4-6): um único corpo em Cristo, um único batismo e uma única fé em Cristo, pois
existe uma única esperança que é obra do Espirito Santo que fazem de todos
filhos do Deus único e Pai de todos. A unidade da Igreja é constituída da comunhão
de todos na mesma fé e na mesma esperança: comunhão de vida com Deus mediante
Cristo no Espirito (Ef 2,18). A esperança não é puramente pessoal mas
essencialmente comunitária e eclesial; une os cristãos entre si na sua comum relação
a Cristo. Aqui é doveroso nos perguntarmos: Existe qualquer relação entre o
vinculo da esperança e aquele do amor reciproco? A solidariedade de Cristo com
todos os homens exige a solidariedade dos homens entre si na mesma esperança e
no amor reciproco, pois o ato de esperar a salvação para os outros tem o seu
fundamento no amor do próximo; o amor nos idêntica com os outros.
A sacramentalidade da Igreja implica tanto a dimensão vertical da existência
humana (união do homem com Deus mediante o amor) quanto a dimensão horizontal (união
dos homens entre si mediante o amor reciproco): o amor de Deus e o amor do próximo
são inseparáveis. A Encarnação fez de
cada homem um irmão de Cristo, a presença concreta de Cristo para cada um de nós.
A caridade crista se insere na mesma índole
comunitária do homem, que não pode alcançar a sua plenitude pessoal senão no
dom sincero de si mesmo aos outros.
A esperança crista aparece, assim, como vinculo comunitário e eclesial
que tem a sua raiz no amor mutuo. O cristão não pode esperar a própria salvação
senão na esperança da salvação de todos os homens. Nesta solidariedade da
esperança, fundada na fé e vivificada pelo amor, produz-se o evento da Igreja
como sacramento universal de salvação. A esperança crista é a resposta do homem
ao ato salvifico de Deus mediante Cristo, a favor de toda a humanidade; por
isso não pode ser reduzida à própria salvação, mas deve assumir o ilimitado
significado do amor divino. A imanência da caridade na esperança comunica a
essa ultima uma amplitude imensa, que reflete na nossa humana pequenez a
imensidade do amor de Deus em Cristo. A esperança crista inclui a dimensão comunitária
no seu aspecto de relação pessoal a Cristo.
A Igreja, enquanto povo de Deus no êxodo da esperança, é o sacramento do futuro, sinal escatológico
que antecipa a salvação «futura». A certeza da esperança crista, na sua dimensão
comunitária, pertence à presença antecipada da salvação futura, ou seja, à
presença de Cristo que deve vir e ja vem mediante o dom permanente do seu
Espirito. A Igreja vive na esperança a sua existência como graça de Cristo. Não
pode confiar em si mesma, mas unicamente na promessa indefectível de Deus em
Cristo. A existência da Igreja, como existência em esperança, implica a
permanente disponibilidade ao futuro imprevisível de Deus. Somente na
fidelidade da esperança à promessa de Deus, a Igreja poderá cumprir a sua missão
profética de proclamar o valor sagrado da pessoa humana e condenar as
estruturas de opressão.