Com que roupa eu vou?
Tudo parece ser apenas um jogo de interesses e
de ideologias. Um partido mandava e fazia como bem entendia e agora outro
partido comanda e deve fazer tudo como bem entender. Onde está o interesse
da nação? O bem-comum que deve ser a busca primordial do Estado está relegado
em qual estágio? A preocupação parece girar em torno de fortalecer e proteger certa
concepção da vida e da realidade. Faz-me lembrar duma música que entoava: Agora
vou mudar minha conduta. Eu vou pra luta, pois eu quero me aprumar (Noel Rosa).
O teor de uma impostação, como forma de governo e de retratar a realidade, qual
é mesmo? Seria impedir as formas diferentes e divergentes de conceber as
coisas? A roupagem, que fala muito e muitas vezes se torna o epicentro da questão,
carrega consigo um fundamento e uma essência ou se está prestes a entrar num
formalismo? A minha desconfiança e medo também é que em nome da roupagem se
transcure e derroque o verdadeiro sentido de ser, estar e governar. E a
humanidade é mestra em disfarce e para manter a aparência é capaz de
atrocidades. Uma irrupção parece querer suplantar os resquícios de uma poeira
que incomoda, mas acaba jogando o senso pela janela da euforia. Quando uma razão,
seja ela qual for, precise da força para se impor, ela mesma perde a sua razão de
ser (cfr. Voltaire). Questões sérias precisam ser tratadas de modo sério, numa
linguagem séria e num tom sério também. A ironia é uma arma poderosa, mas se
usada inapropriadamente pode ferir a quem ela profere. É preciso ter parcimônia
e não deixar que os arroubos emotivos e emocionais não arranquem a real vivência
do tempo presente.