A critica de Malebranche a Montaigne

A critica de Malebranche a Montaigne
Nicolas Malebranche (1638-1715), inspirado por convicções religiosas e pelo platonismo agostiniano, buscou fundamentar e harmonizar as doutrinas de Descartes, constituindo um sistema filosófico racionalista de feição mística. Mas sua maneira formalista levava a um ácido pavor de Montaigne, que como espírito livre, bastante assistemático. Falecidos seus pais, entrou em 1660 na Ordem dos Oratorianos de São Filipe Neri., sendo ordenado sacerdote em 1664. Não exerceu funções especiais, limitando-se praticamente ao estudo pelo resto de sua vida. Sabe-se que em 1585, quando da revogação do Edito de Nanes, pelo qual fora concedida em 1598 liberdade de crença aos protestantes na França, Malebranche foi um dos encarregados de pregar missão aos "novos convertidos".
Assim para Malebranche, Montaigne não somente era «irracional» mas perigoso e nocivo: «Não somente é arriscado ler Montaigne para se divertir enquanto que o prazer que se consegue nos leva, sem que prestemos atenção, a pensar como ele, mesmo porque esse prazer é mais culposo de quanto nem se pense. É certo que nasce, sobretudo, da concupiscência e que tudo está no alimentar e nos reforçar das paixões; pois o estilo deste escritor resulta prazeroso somente enquanto nos toca despertando as nossas paixões de maneira imperceptível» (Richerche de la verité, Laterza, 2007, 256). Quem ler ou gosta de Montaigne, nos dizeres de Malebranche, ou está iludido ou não sabe bem distinguir a s coisas.
Ele tinha uma crítica odiosa a Montaigne e por isso atribuia à obra montaigneana de incitar maus desejos e elevar os vícios à categoria de virtude: O livro de Montaigne contém provas evidentes da vaidade e da soberba do seu autor que pode parecer inútil parar para relevar: necessita está cheio de si para poder imaginar-se, como ele, que o povo queira ler num livro mesmo que muito preponderoso para fazer uma idéia qualquer dos nossos humores. Necessitava que se considerasse um ser fora do comum, um home totalmente extraordinário (RV, 258). Isso era odioso e vil, e, despertava um espírito de deslavada liberdade.
Seria inveja ou moralismo acentuado? O fato é que Malebranche não via com bons olhos a descriçaão que Montaigne fazia de si mesmo, o que para ele era contra a humildade cristã e contra toda forma de bom senso: Falar continamente de si em termos de louvores a si mesmo é uma vaidade de Montaigne; vaidade indiscreta e ridícula. Mas uma forma ainda mais bizarra desse autor é a descrição dos seus defeitos. Mas se se presta atenção ele somente coloca nu os defeitos aos quais, por via da corrupção dos tempos, o povo se orgulha (RV, 260). Montaigne pode ter pecado por vaidade, mas é claro que Malebranche não usa nem um pouco de lealdade e caridade.
Malebranche tinha o homem como centro do olhar de Deus e em Deus esse homem se distinguia de todos os outros, superiormente, porque querido pelo próprio Deus. Por isso a aacusação a Montaigne, para ele era inadmissível a equiparação montaigneana, já que esse era: Um homem que se serve das opiniões mais absurdas para concluir que «nós nos antepomos aos outros animais, não por um raciocínio veraz, mas por demasiada soberba» (II,12), como se pode afirmar que teve um conhecimento muito preciso do espírito humano e acrer de persuadi-lo aos outros? (RV,263). E daí a conclusão do absurdo que seria Montaigne. Como aceitar o naturalismo de Montaigne um que pesnava que Deus está muito intimamente ligado às almas dos homens por sua presença, Ele é o lugar dos espíritos, assim como os espaços são os lugares dos corpos.
Tudo em Montaigne soa falso e hipócrita, nada é o que parece ser, tudo é combinado para iludir, enganar e mascarrar: As suas expressões inusuais ou ousadas, mas agradáveis. Os seus discursos fracos sobre o plano do raciocínio, ma forte sobre aquele da imaginação. Em todo o seu livro se debatem traços de originalidade que agradam muito; mesmo que muitas coisas sejam copiadas não se deixa perceber; a sua forte e convincente imaginação confere às coisas que copia um ar de originalidade. Emfim, ele tem o que é necessário por prazer e para impor; e acredito ter demonstrado suficientemente que se ele é admirada por muita gente, não por meio do exercício da persuasão racional, mas conquistando os espíritos com a sempre vitoriosa vivacidade da sua poderosa imaginação (RV,264). Por que ver as coisas sempre de maneira torta? Por que não acolher e acreditar na confissão de alguém? Por que esse ódio ou desconfiança geral a Montaigne?
Pode-se dizer que a maneira que Malebranche se dirige a Montaigne denota uma dose alta de ciúmes e ,sobretudo, o medo de quem não sabe ser desenvolto na liberdade e acusa todo espírito livre de heresia, ateismo, falta de piedade e de razão. Pelo fato de usar a imaginação no lugar de sistemas lógicos, falar de si no lugar de anjos, pintar a própria miséria no lugar de falsa perfeição não significa que Montaigne seja um malvado ou um que busca de subterfúgios para lograr fama e sucesso. Não é dito que todos devam usar o mesmo método e a mesma categoria. Pelo fato de não concordar ou gostar da obra de Montaigne não daria direito a Malebranche destilar ódio e acusações insanas a Montaigne.

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