Comemorar
os defuntos?
Isso mesmo, a
celebração litúrgica diz: comemoração dos fieis defuntos. Não é uma cerimônia
de lamentações ou de choradeiras. É uma celebração da esperança, da confiança
no Deus para quem tudo vive. E para os mais puritanos e xiitas da fé, essa
celebração nasceu no âmbito pagão e somente com o tempo se cristianizou. Algumas
culturas e tradições fazem desse dia um dia festivo, com bandas e doces, pois é
essa a perspectiva que os irmãos defuntos estão caminhando, ou seja, ruma à
ressurreição. Basta lembrar a celebração dos mortos que ainda existe no México
e que já era celebrada pelos Maias, Astecas, Toltecas, etc.
Já faz alguns tempos venho me questionando: por que essa trilogia de
bruxas, defuntos e santos? Por que será
que a tradição saxônica inseriu essa festa do “halloween” nas mediações da festa dos santos e dos defuntos? Pura
coincidência ou por que são todos seres de outro mundo? Não tem nada de comum
entre essas três comemorações? Qual o ponto de convergência entre essas três
categorias? Ousando mais: são apenas lembranças que trazemos e não passam de
lendárias historias? Para quem esteja achando que estou divagando: “Halloween”
é um nome que deriva de "All Hallows' Eve"."Hallow" é um
termo antigo para "santo", e "eve" é o mesmo que
"véspera". O termo designava, até o século 16, a noite anterior ao
Dia de Todos os Santos, celebrado em 1º de novembro. No século XVIII passou ser
mais uma celebração do “Samhain”, o
Rei dos mortos.
A nossa vida não
termina num túmulo. Esse é o teor da celebração dos fiéis defuntos. As
tradições pagãs e cristãs acabaram se misturando. Quero dizer: o túmulo não
pode aprisionar a pessoa. Feitos para a eternidade, nada e nem ninguém nos
segurará. Essas realidades denotam o desejo humano de eternizar a vida, de não
se esvair pela morte. O mundo pagão eternizam seus fantasmas, os crentes
perpetuam a memória dos seus entes queridos e o cristão se projeta na comunhão
dos santos.
Longe de mim querer
equiparar essas três realidades, mas não podemos ser indiferentes que são três
dimensões que se afloram na consciência ou na tradição das pessoas e que fazem
parte do nosso cotidiano. Toca-nos a missão árdua de distinguir para poder
escolher o caminho que nos representa melhor e exorcizar do imaginário coletivo
que existem espíritos pairando e influenciando nossas atitudes corriqueiras. E
para os desavisados históricos, essa festa que hoje se banalizou e permite
brincar com nossos medos, não é coisa americana, nasceu no seio da igreja,
quando se acendia fogueira para banir a peste negra e expulsar a feitiçaria.
A cada qual o que lhe é
próprio, sendo assim não confundiremos os papeis e as tradições. Desse modo, às
bruxas os doces, aos defuntos a oração e aos santos a imitativa devoção.