Não tem lugar pra você

Não tem lugar pra você



Não tem lugar pra você, já está tudo ocupado. Não tem lugar pra você, o seu dinheiro não é suficiente. Não tem lugar pra você, aqui temos outra raça, outros costumes e outra cultura. Não tem lugar pra você, pois pertence a uma outra religião. Não tem lugar pra você, aqui tem certos requisitos que você não preenche, não tem lugar pra você, dado que você não corresponde ao que se almeja aqui. Não tem lugar pra quem não disponibiliza do tempo ou da qualidade. Não tem lugar!
Não tem lugar para quem se obstina em pensar diferente. Não tem lugar para quem não faz o jogo da maioria. Não tem lugar para quem se ousa desafiar as autoridades, ainda que sejam injustas. Não tem lugar para quem quer ser independente, num mundo que as diversas ditaduras determinam os padrões. Não tem lugar para quem não se acostuma com os hábitos cristalizados duma sociedade hipócrita e que já perdeu a sua identidade. Não tem lugar para quem se pretenda viver sem dar muitas satisfações aos legalismos e para quem não se importe com as opiniões. Não tem lugar!
Não tem lugar pra você, o mundo é de quem tem mais, de quem aparece mais, de quem engana mais,  de quem ostenta mais, de quem leva mais vantagem. Não tem lugar para você se quer ser honesto e justo. Não tem lugar pra você para viver e construir uma civilização da paz e do amor. Não tem lugar pra você que acredita no bem e busca coloca-lo em prática. Não tem lugar pra você ser você sem as exigências que os outros lhe fazem. Não tem lugar para Deus num exacerbado consumismo,  egoísmo e materialismo. Não tem lugar para a serenidade numa frenética e desarticulada mania de ativismo. Não tem lugar para a filosofia num tempo de imediatismo e banalização,  onde a reflexão é artigo de estranhos. Não tem espaço para o acolhimento e o aconchego onde o pragmatismo e o interesse se tornam os maiores valores. Não tem lugar pra você, porque a pessoa já foi abolida em nome da tecnologia e da modernidade. Não tem lugar! (www.pjribeiro.blogspot.com); é preciso ser você mesmo o seu lugar, sem se fechar, mas viver os momentos como eternidade do seu ser (jorgeribeiroribeiro@gmail.com) ; Não tem lugar pra você se não cede à opressão do relativismo subjacente dos dias atuais. Não tem lugar para o silêncio e a contemplação quando o barulho e o frenesi permeiam os relacionamentos e convivências. Caso você queira tomar consciência da própria identidade, não tem lugar pra você!


O remorso

O remorso



Esse misto de tristeza e culpa, “o remorso é a única dor da alma, que nem a reflexão nem o tempo atenuam” (Madame de Staël), ele é o sentimento que estratifica os desejos sinceros e abotoa para dentro a amargura unilateral que cada um carrega no seu bojo. Descuido ou indiferença, não importam os motivos, o remorso se apresenta como autenticação de passos mal dados, como atestado de um compromisso vivido unilateralmente. O remorso afeta a consciência de quem se dá conta que o desvario provoca feridas que talvez nunca sejam cicatrizadas. O remorso é de quem assume a própria incompetência diante de algo ou alguém que desleixou. Por isso, o remorso paralisa, enfraquece e causa náusea. Ele é o castigo que cada um mesmo se imputa, como um desvelar-se da própria alma perante experiências vivenciadas. O remorso é a consequência de distrações que se operacionalizaram negativamente. Ele é a fragmentação da pessoa que não pode modificar o passado ou o vivido, mas apenas assumir o peso de escolhas equivocadas. O remorso produz uma sombra pesada nas atitudes e inibe a espontaneidade dos gestos.  O remorso é uma reação perante o perdido ou o desgastado. O gosto do remorso é o azedume de quem si auto-reconhece falido e fracassado, mas somente os espíritos nobres se curvam sobre si mesmo para fazer dele o espinho que adestra a sua peregrinação.

A verdade abriu a boca

A verdade abriu a boca!


Por Jorge Ribeiro



Não ha como ter um pensamento, que seja situado, sem recorrer à tradição, mas isso não impede a atualização e o envolvimento da realidade da cercania. O ponto de partida de uma reflexão quase sempre é a carência, o desejo de fundamento. Essa indigência que nos caracteriza como seres perambulantes não deve nos acomodar ou impedir de irmos em busca da clareza e da seriedade das coisas. Diante de tantos falatórios, de tantas propostas e pretensões, qual o papel da verdade?
Ela está submetida às coerências ou conveniências empanadas de grandiosidade ou subsiste independentemente das adesões mais ou menos arrojadas? A verdade não pode se calar! Ela precisa ser ouvida, ainda que faça sangrar, somente ela tem o bálsamo para cicatrizar as feridas que tantas idas e vindas provocam. Nem o ressentimento, nem o aviltamento ou a resiliência conferem uma afirmação que não se tombe perante o desnudamento do ser. Precisa ser desmascarada essa maneira ultrajante de se afirmar algo, negando  de modo pernicioso o outro e sua apropriação (www.pjribeiro.blogspot.com) .
Onde está a veracidade da verdade? Na sua capacidade de adesão ou na força do seu argumento? Talvez esteja na consciência e na persuasão de quem a revela? Não se pode em nome da tolerância produzir uma enganosa aparência de verdade e muito menos negar a sabedoria em função duma paixão desmemoriada que se julga superior e por isso quer se impor. O espírito tem exigências variadas, todos sabem disso, mas a explosão de sua importância se encontra na inegociável certeza que carrega consigo. Nesse tempo em que as aberrações subjetivistas tendem a ser critério de verdade ou parâmetro de atitudes, como lidar sem se deixar contaminar pela virulência dos criticismos a moldes das lives e outras portadas virtuais?  A truculência e a banalidade regadas pela extrema sensibilidade nos acuam e nos colocam brides, pois todo esforço da razão e do bom senso parece não encontrar mais terreno, nem mesmo nos tradicionais guardiães do sentido.

Essa tragédia profetizada do mascaramento da realidade abala as estruturas da vida, onde incertezas ou forjadas evidências são propostas ou defendidas como direção e desenvolvimento do mundo. Como lutar pela verdade? A indignação de quem não se acostuma com a mediocridade do dado e a revolta de quem não tem ciúmes da própria vontade de aparecer, e não se importa muito com as opiniões, continua sendo a possibilidade de acolhimento do encontro sem contudo ser obrigado a uma sujeição que quer forçar a encobrir a verdade. A verdade precisa de profetas e de mártires para que sua boca não seja suplantada pela projeção consumista que quer substitui-la pela prosperidade.

A experiencia do sofrimento

A experiência do sofrimento




Por Jorge Ribeiro


O sofrimento é fruto do desejo. O desejo almeja ser o que não se é ou ter o que ainda não possui, e essa projeção, na grande maioria dos casos, acaba por se tornar uma experiência dilacerante, penosa. É uma experiência dolorosa que se estende além do circunstancial. O sofrimento se apresenta como solidão que envolve a pessoa, exilando-a da sociabilidade e de si mesma, pois a afasta do círculo presencial. Outro modo como a sofrimento se faz atualizado na vida das pessoas é como angústia, ou seja, como consciência pessoal e intransferível da própria finitude. A morte aparece no horizonte da pessoa como possibilidade real, e isso, quando a vida é tomada a sério, provoca angústia, sofrimento. O sofrimento aparece também com desprazer que causa aviltamento e aniquilamento no ânimo do sujeito. Experimentar o sofrimento é fazer uma intensa experiência da dor. Essa é inevitável, enquanto não dependente da própria pessoa para acontecer, mas o sofrimento que decorre de sua atuação é subjetivo, ou seja, meramente particular e intrasferível. A essência primordial da pessoa é a vontade (concordo com Schopenhauer), pois desse âmago nascem os desejos, as buscas, as determinações, dado que o controle de nossas ações dependem do uso que se faz da vontade, mas essa também se percebe como imersa na cegueira do mundo, que é limitada e que não possui controle absoluto da pessoa. Somente quem busca viver com consciência ou autenticidade padece, maiormente, a intensidade do sofrimento. O sofrimento é opcional então? Grande parte das pessoas preferem ignora-lo ou distrair-se, alienando-se em outras experiências e não encarando a sua realidade. É acolhendo, aceitando e, depois disso, uma possível superação acontece. Esconder-se em quaisquer paliativos não elimina o sofrimento, apenas desvia-o numa outra atmosfera. Também a compensação não resolve o problema do sofrimento, dado que encobre a sua realidade com algo que oferte uma sensação de serenidade na pessoa. A experiência do sofrimento é humana, meramente humana (diria Nietzsche), provoca dilaceração, conflitos entre os indomáveis desejos, mas o sonhado repouso e sentido são possíveis com o seu acolhimento. É o desejo insaciável do homem que abre uma fenda indomável em seu ser e sua redenção, isto é, a sua libertação acontece por meio da abertura ao absoluto, a uma experiência de sentido que fundamenta todos os sentidos.


SOBRE O ILUMINISMO

O QUE VEM A SER ILUMINISMO?



O movimento do iluminismo, que historicamente foi fruto de lutas sangrentas, religiosas e inconclusas que aconteceram desde o século XVI. Nessas desenfreadas lutas, muitos perceberam a necessidade da tolerância como meio para superar tais divergências e para encontrar uma direção serena e pacífica nos relacionamentos pessoais e sociais. Especialmente na Alemanha o iluminismo foi mais na linha de um renascimento intelectual, mesmo porque a partir dai ela começou a se libertar da subserviência à cultura francesa. O iluminismo esteve muito ligado à difusão do conhecimento cientifico. Perde-se a hegemonia da autoridade e da religião e os indivíduos começam a buscar razões mais cientificas das suas próprias escolhas e crenças. Nasce, por assim dizer, a busca pela liberdade de opinião e, de consequência, politica, intelectual e religiosa, ou seja, uma espécie de liberalismo. O iluminismo busca expandir a luz da razão onde até então prevaleceram as trevas. Do iluminismo nasce também a busca pela estabilidade politica e social, assim como a devoção ao industrialismo. O iluminismo leva também a perceber o conhecimento sem fronteiras políticas ou sociais. A tentativa mais bem elaborada do projeto e da conquista do iluminismo pode ser visto na Encyclopédie, onde se percebe a ciência como a nova força propulsora do intelecto, uma verdadeira luta contra o obscurantismo. O primado da razão sobre qualquer outra forma de manifestação da pessoa, era o ponto que unia todos os iluministas. Outra contribuição é o trabalho para que a humanidade possa alcançar novas e mais felizes perspectivas.
O iluminismo reza uma confiança, muitas vezes exagerada, na razão, o que representaria o progresso da humanidade; dar-se também a rejeição da metafisica como dogmática; prevalece uma rejeição das religiões positivas como superstições  e a defesa dos direitos naturais inalienáveis do ser humano. Assim, o iluminismo, independentemente das ideologias que depois entraram e transformaram o que deveria ser um bem para humanidade em fator de intolerância,  ajuda a ter uma concepção mais natural, racional e, sobretudo, mais cientifica dos próprios conhecimentos e colabora para se evitar não somente superstições e fundamentalismos, mas como ter um dialogo tolerante na humanidade.


Pra se pensar ....

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