O remorso
Esse
misto de tristeza e culpa, “o remorso é a única dor da alma, que nem a reflexão
nem o tempo atenuam” (Madame de Staël), ele é o
sentimento que estratifica os desejos sinceros e abotoa para dentro a amargura
unilateral que cada um carrega no seu bojo. Descuido ou indiferença, não
importam os motivos, o remorso se apresenta como autenticação de passos mal
dados, como atestado de um compromisso vivido unilateralmente. O remorso afeta
a consciência de quem se dá conta que o desvario provoca feridas que talvez
nunca sejam cicatrizadas. O remorso é de quem assume a própria incompetência
diante de algo ou alguém que desleixou. Por isso, o remorso paralisa,
enfraquece e causa náusea. Ele é o castigo que cada um mesmo se imputa, como um
desvelar-se da própria alma perante experiências vivenciadas. O remorso é a
consequência de distrações que se operacionalizaram negativamente. Ele é a
fragmentação da pessoa que não pode modificar o passado ou o vivido, mas apenas
assumir o peso de escolhas equivocadas. O remorso produz uma sombra pesada nas
atitudes e inibe a espontaneidade dos gestos.
O remorso é uma reação perante o perdido ou o desgastado. O gosto do
remorso é o azedume de quem si auto-reconhece falido e fracassado, mas somente
os espíritos nobres se curvam sobre si mesmo para fazer dele o espinho que
adestra a sua peregrinação.