A LIBERDADE QUE DESEJO

A LIBERDADE QUE DESEJO

BY JORGE RIBEIRO
OUT\2014




O que é essa tal de liberdade? Como a entendemos? Como buscamos vivencia-la? Experimento essa mistura de liberdade e escravidão, muitas vezes meus atos são livres e libertadores e em outros tantos momentos sou determinado ou algemado pelas circunstâncias nas quais sou envolvido. Tenho consciência que a minha liberdade não pode ser absoluta, porque eu mesmo sou relativo, mas a liberdade que desejo é aquela que eu não seja amordaçado nas palavra, nos atos e nos sentimentos pelas conveniências.
Não ingênuo ao ponto de pensar que as minhas ações serão sem consequências ou que elas são neutras, ao contrário, sei perfeitamente que cada escolha tem seu limite, seu prégio e o seu preço e que cada um paga, de um modo ou de outro, o valor da própria escolha; mas a minha angústia provem da mistificação que se tem em relação à democracia ou ao uso da liberdade.
Essa minha reflexão é justamente porque vivemos numa espécie de hipocrisia generalizada, pois somos amordaçados continuamente e não nos damos conta, e é assim mesmo! A sociedade, a educação, a igreja nos impõem censuras, códigos muitas vezes não escritos, que nos impedem de nos expressarmos ou de comunicarmos os nosso pensamentos de modo livre! 
Quem de nós pode dizer o que se pensa sobre o aborto, a corrupção, a união homo, o transplante, a violência, somente para citar alguns assuntos, que imediatamente não seremos logo rebatidos, acusados, maltratados porque se ousou agir ou pensar diversamente? Existe uma selvageria disfarçada, e outras vezes não tanto, que nos impele a nos comportar ou a obedecer certos ditames que não fazem diferença e que são apenas atitudes convenientes que se estendem como normatividade comum.
Não faço apologia à anarquia e nem ao liberalismo e muito menos ainda ao permissivismo ou ao relativismo, mas apenas me sinto sufocado (como tantos outros que não tem como dizer ou que tem medo das represálias e por isso não se manifestam), por essa mania que temos nós todos, inclusive eu, de taxar os comportamentos, as palavras e as atitudes dos outros como erradas ou malévolas porque não condizem com as nossas e com os parâmetros que fazemos parte.
É justamente a esses paradigmas que colocamos e que, a partir deles, rotulamos e aprisionamos a nós e aos outros que quero manifestar a minha indignação, ou seja, quero convidar à uma reflexão sincera, porque determinadas proibições e\ou coibições não precisariam fazer parte do nosso horizonte e certas ameaças e medos não precisariam entrar no nosso léxico. Expressões tipo condenado, excomungado, excluído, rejeitado, censurado, perseguido, entre outras, não deveriam mais fazer parte do nosso vocabulário de pessoas civilizada, democráticas e adeptas da tolerância.
E o mais grave é que nem precise que as instituições punam, as próprias pessoas se encarregam de serem carnífices dos próprios irmãos.... será preciso existir sempre os mártires e os loucos para poder chamar o povo à atenção ao verdadeiro e ao essencial? Não nos damos conta de que essa hipocrisia generalizada gera somente morte, crueldade e desassossego? Eu realmente não me sinto livre de opinar sobre nenhum argumento, pois a nossa democracia é falsa e quando o que eu disser contrarie os gostos e interesses de alguém virão as punições, e essas de tantos modos...
Somos mestres da condena e todos que não se encaixam nos nossos critérios, são objetos de suspeitas e transformamos a terra num purgatório, numa antessala do inferno ou, quando somos razoavelmente bons, numa transposição ao paraíso futuro e, o quanto havemos para viver e fazer o bem é somente o presente.  Como já expressava o Evangelho segundo Lucas, muitas e tantas vezes, “detemos as chaves e não entramos e nãos deixamos que os outros entrem” (Cfr. Lc 11, 52), ou seja, quando não somos livres o suficiente buscamos condenar os que se pretendem ou queiram ser livres.
Isso é tão arraigado que muitos, até mesmo que sofrem esse tipo de pressão, não darão importância ou ignorarão esse tipo de reflexão e ainda acusarão que se trata de revolta, de frustração ou de insatisfação, e isso é verdade, mas porque somos passivos diante das decisões e dos leis sancionadas pelos outros, e não coloco em baliza as leis para o bem de todos, mas os costumes que engessam e causam mais diferenças e desigualdades que alegria e satisfação. Não se trata de viver uma promiscuidade intelectual ou do levar vantagens sobre tudo, mas de se respeitar e de ser respeitado nas diferenças.
Faz-se mister se desapegar de qualquer ideologia ou sistema absolutista, para poder viver a liberdade que se deseja, melhor, para viver a liberdade que desejo muitos cânones precisam ser quebrados e muitas barreiras superadas, e ser lúcido para pagar o caro preço de não dizer amém a tudo e a todos em trocas de salvar a pele e de não ser também um rebelde sem causa, mas não se vender nem pelo convencionalismo e nem pelo subjetivismo. Sobreviver é fácil, mas viver não é fácil e viver com liberdade é mais difícil ainda.




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