Guilherme de
Ockham
1. Visão geral:
Para Ockham a fé não pode fazer conhecer de maneira
clara e inequívoca as suas verdades. A fé não pode apresentar argumentos que
possam ser demonstrados. A verdade manifesta por Deus não pertence ao mundo
racional. A filosofia não pode se submeter à teologia porque a teologia não é
uma ciência, mas uma série de afirmações e sentenças que não se relacionam
lógica e racionalmente. O que une as afirmações da teologia é a fé e não a
razão.
A
razão também não pode proporcionar assistência e apoio para a fé, pois para as
coisas divinas a razão é ineficaz. Somente a fé consegue esclarecer assuntos da
revelação divina. O entendimento da revelação divina vai além da capacidade
humana e portanto não é racionalmente compreensível. A razão humana trabalha em
um território diverso do território da fé.
O
mundo para Ockham é a soma das diversas partes que acabam fazendo o todo, mas
essas partes não tem entre si uma ligação ou uma ordenação necessária. Essas
diversas partes individuais são o objeto da ciência. O universo é composto por
um conjunto de elementos divididos, isolados e eventuais.
A
prioridade que o autor dá ao indivíduo faz com que também tenha prioridade a
experiência e é nela que ele coloca a base do conhecimento, que pode ser
intuitivo ou abstrativo.
O conhecimento intuitivo é que vai
demonstrar se algo existe concretamente. A compreensão intuitiva da realidade
do mundo é o que origina todos os outros entendimentos que o conhecimento nos possibilita,
é nele que inicia todo conhecimento experimental. No conhecimento intuitivo não
existem intermediários entre o objeto conhecido e o indivíduo que vai conhecer
esse objeto.
O
conhecimento abstrativo é a totalização, a soma dos diversos conhecimentos
intuitivos individuais e não necessita para sua formulação da existência
concreta do objeto do conhecimento.
"Não devemos multiplicar os entes se não for necessário" é a frase de
Ockham que resume o que mais tarde ficou conhecida como sendo A Navalha de
Ockham. Como cada indivíduo é único, única também é a sua capacidade
intelectual, não existe um universal para o conhecimento. Fazer abstrações
sobre a essência de diversos entes é algo supérfluo e inútil. O conhecimento
baseia-se no mundo empírico e individual. A Navalha de Ockham exclui do
conhecimento possível o conhecimento metafísico. Somente podemos conhecer o que
podemos experimentar.
Em outros termos a Navalha de Ockham diz que entre duas teorias que explicam o
mesmo fenômeno devemos escolher sempre a mais simples. No caso de Ockham a
explicação mais simples é a mostrada pela experiência.
Guilherme,
após se desinteressar pela pesquisa dos problemas metafísicos, conduz sua
atenção para os assuntos da natureza, pois essa é o objeto direto das
experiências sensíveis. A natureza é o território do conhecimento humano, é
para o mundo físico que os homens devem orientar sua atenção e direcionar suas
pesquisas.
2. Separação entre fé e razão
Guilherme de
Ockham é o último grande nome da filosofia medieval e o primeiro filósofo que
encarna o que se poderia chamar de "espírito do século 14". Levando o
pensamento de Duns Scotus às últimas conseqüências,
Ockham acentua a separação entre a filosofia e a teologia, entre a razão e a
fé, no momento em que se anunciam as primeiras descobertas da ciência moderna.
Para Ockham, demonstrar uma proposição é mostrar sua evidência ou deduzi-la rigorosamente de outra evidente. A essa exigente concepção de prova, acrescenta-se o senso muito vivo do concreto, que faz do ockhamismo um empirismo radical. Na opinião de Ockham, o conhecimento abstrato refere-se às relações entre as idéias, sem nada garantir sobre sua conformidade com o real. Quanto ao conhecimento intuitivo, este dá a evidência imediata, assegurando a verdade e a realidade das proposições. Só a intuição prova a existência das coisas, ponto de partida do conhecimento experimental, que, generalizando o particular, chega ao universal, à lei. É a experiência que permite conhecer as causas das coisas.
Para Ockham, demonstrar uma proposição é mostrar sua evidência ou deduzi-la rigorosamente de outra evidente. A essa exigente concepção de prova, acrescenta-se o senso muito vivo do concreto, que faz do ockhamismo um empirismo radical. Na opinião de Ockham, o conhecimento abstrato refere-se às relações entre as idéias, sem nada garantir sobre sua conformidade com o real. Quanto ao conhecimento intuitivo, este dá a evidência imediata, assegurando a verdade e a realidade das proposições. Só a intuição prova a existência das coisas, ponto de partida do conhecimento experimental, que, generalizando o particular, chega ao universal, à lei. É a experiência que permite conhecer as causas das coisas.
Não se trata,
portanto, de conhecer o universal, mas a evidência do particular. O universal
não tem realidade e a inteligência deve ser capaz de apreender o particular.
Para Ockham não existem conceitos abstratos ou universais, mas apenas os termos
ou nomes cujo sentido seria o de designar indivíduos revelados exclusivamente
pela experiência.Assim, o Deus de Ockham é Javé, que a nada obedece, nem mesmo
às idéias, pois, eliminada a realidade dos universais, tudo se torna
contingente, e poderia ser de outra maneira, se Deus o quisesse. Provada a
impossibilidade de racionalizar a fé, a teologia passa a proceder
exclusivamente da crença, e a filosofia, da razão.
3. O conceito de
liberdade:
É um filósofo que deixa transparecer sua intensa luta
pela liberdade e
ao longo de anos desenvolveu uma teoria de liberdade baseada no sujeito. O
indivíduo seria capaz de escolher e saber o que é certo e errado sem nenhuma
intervenção exterior. O homem teria o direito de decidir o seu fim e a
sociedade não deveria impor nada a ele. Para a ética, a liberdade é o assunto por excelência.
A liberdade é muito importante para a ética, porque se ocupa do livre arbítrio,
da finalidade de nossa vida e existência.
Para Ockham, a liberdade apresenta-se como a
possibilidade que se tem de escolher entre o sim ou o não, de poder escolher
entre o que me convém ou não e decidir e dar conta da decisão tomada ou de
simplesmente deixar acontecer. A preocupação de Guilherme de Ockham é com o
fato de que o poder organizado e moralizado é contrário à natureza e à
liberdade a nós concedida por Deus.
Isto não é admitido como verdade por todos os filósofos, e no pensamento
medieval do qual Ockham é um representante, isso era uma total desestruturação
de uma cultura e sociedade vigentes.
Ockham denuncia aqueles que em nome da religião, passaram a usurpar o livre arbítrio.
E que tais usurpadores entendem, assim como ele, a liberdade como um dom de
Deus e da natureza. Ockham situa a ação humana no indivíduo e suas escolhas
reais e concretas, presentes não em verdade ou entes universais, mas nas coisas
e situações particulares, individuais. Distingue faculdades humanas de faculdades
animais, ou seja, o homem possui a capacidade de viver pela arte e pela razão, que no entendimento do filósofo seriam
as faculdades humanas e é por elas que deve agir e não pelas faculdades animais
(seus instintos). Pressupõe-se assim que é de nossa
própria natureza a capacidade de escolha exercida por meio do livre arbítrio,
entendida como presente de Deus e da natureza.
4. Quais os problemas
da existência de Deus em Ockham?
A grande problemática que
perpassa novamente pela navalha ostentada pelo filósofo é a problemática entre
fé e razão, ao contrário da escolástica, Ockham se afasta um pouco dos ditames
da fé sobre a razão ou da fé que leva a razão, por motivos diversos, mas,
sobretudo porque segundo o filósofo a verdade relevada é necessária e superior
ao mundo e a multiplicidade de indivíduos, por Deus ter criado o mundo por pura
liberdade, o mundo é contingente, e toda e qualquer tentativa eqüitativa entre
razão e fé é uma tentativa, segundo o filósofo, de igualar o contingente ao
necessário, o que seria uma falácia. “No
contexto das exigências lógicas deve-se dizer que Ockham exclui toda intuição
de Deus. Nada pode ser conhecido em si pela via natural se não for conhecido
intuitivamente; mas Deus não pode ser conhecido intuitivamente por uma via
puramente natural.” (REALE; ANTISERI, 625)
5. Análise dos
conceitos de universal e nominalismo:
Ockham ao primar pela experiência
e reconhecer na experiência, o que tardiamente seria chamado de empirismo, um
movimento crescente na Inglaterra, entre os séculos XVI; XVII e XVIII. Sabemos
que o empirismo é herdeiro de Roger Bacon, um medieval (1214-1292) considerado
o precursor de um novo método gnosiológico, o método empirista. Partindo desse
ponto podemos observar parte do universo em que se encontra Guilherme de
Ockham, considerado o último medieval assim como, talvez, o primeiro moderno,
mas especulações a parte, a grande crítica de Ockham aos universais, famosos
universais medievais, que descendiam da filosofia grega, do supra-sensível platônico
ao motor primeiro aristotélico, Ockham mesmo afirma: “Os universais são simples
formas verbais através da qual a mente humana estabelece uma série de relações
de exclusiva dimensão lógica” ( REALE e ANTISERI, 620). Portanto a realidade
individual no campo de análise permite a Ockham discordar dos universais, por
não levarem em conta o conhecimento incomplexo dos termos singulares,
inexistentes numa realidade universal puramente lingüística, para o filósofo.
6. O que se entende por
nova lógica em Ockham?
Ockham embasado por sua navalha, crítica a lógica Aristotélica e toda a
lógica medieval herdeira do silogismo puramente lingüístico e sem compromisso
com a realidade; uma vez que o método implicado por Ockham prima pelo
indivíduo, ou seja, pela experiência em detrimento dos universais
multiplicáveis ao infinito. A respeito das proposições, primeiro: proposições
mentais, segundo: a proposição se apresenta no termo oral, por fim o termo
escrito, só a primeira é autêntica para Ockham.As outras duas são convencionais
pois mudam de língua para língua.Ockam ainda se preocupa em determinar os
termos de analise do silogismo, propondo os termos categorimáticos : termos de
significado preciso,singularmente e universalmente, exemplo: Homem. E
sincategorimáticos: em si mesmos não significam nada, mas somados a outros
termos significam alguma coisa, exemplo: cada, nenhum, algum, tudo, exceto...
categorias lingüísticas que delimitam ou somam a algum conceito. (REALE;
ANTISERI, 622).
7. Novo método
científico:
“Além da multiplicidade dos indivíduos, não é necessário admitir mais
nada. Se isso é verdadeiro, o fundamento do conhecimento não pode ser outro
senão experimental” (REALE; ANTISERI, 628). Partindo da concepção de que a
razão se encontra no nível de pesquisa e que a fé é revelada, e uma não tem
expressão sobre a outra, Ockham deixa o caminho livre para empreender um novo
método de pesquisa, que revisa toda a metafísica tradicional cuja “causa” o
princípio (o motor primeiro) já não importa tanto; mas, sim, a análise empírica
do objeto de estudo. A partir desse ponto de vista deixa-se de procurar pela
substância primeira e seus efeitos, para compreender os fenomenos e suas
funções.
8. A navalha de Ockham
Segunda a
professora Sara Bizarro, a "navalha de Ockham", também conhecida como
o princípio da parcimônia, é uma máxima que valoriza a simplicidade na
construção das teorias. A formulação mais comum desta máxima é "Entia non
sunt multiplicanda praeter necessitatem" ("As entidades não devem ser
multiplicadas sem necessidade"). Esta formulação é freqüentemente
atribuída a Guilherme de Ockham, embora ela não se encontre em nenhum dos seus
escritos conhecidos. A frase de Ockham mais próxima desta máxima é
"Frustra fit per plura quod potest fieri per pauciora" ("É vão
fazer com mais o que se pode fazer com menos").
No entanto,
ainda segundo a professora, é defensável que Ockham se referia a uma máxima
bastante conhecida, visto que o princípio da parcimônia pode até ser encontrado
em Aristóteles. Pensa-se, assim, que esta máxima foi associada a Ockham não por
ter sido ele o primeiro a utilizá-la, mas por causa do espírito geral das suas
conclusões filosóficas.
O princípio da parcimônia pode ser considerado como um princípio ontológico ou como um princípio metodológico - e os parâmetros de simplicidade requeridos podem variar entre o tipo e o número de entidades a serem admitidas. Como princípio metafísico ou ontológico a "navalha de Ockham" diz que devemos acreditar no menor número possível de tipos de objetos. Como princípio metodológico a "navalha de Ockham" diz que qualquer explicação deve apelar ao menor número possível de fatores para explicar o fato em análise. Guilherme de Ockham foi reabilitado pela Igreja Católica em 1359.
9. Algumas advertências sobre o mau uso da Navalha
Como
todo princípio científico mal compreendido e vulgarizado pela repetição (E=mc2,
entropia, caos, herança genética, etc), a Navalha de Ockham se tornou um bordão
utilizado indevidamente por leigos e por céticos ansiosos demais em descartar
explicações incomuns.
Quando se diz que a teoria mais simples é a correta não se quer dizer que a teoria mais fácil de se entender é a correta. Em primeiro lugar porque simplicidade é um critério pessoal e subjetivo. Além disso a natureza certamente não tem vocação para a simplicidade; apesar de algumas leis fundamentais da física serem expressas de forma surpreendentemente simples (como as leis de Newton), isto não significa que a explicação mais simples seja sempre a correta, ou que seja correta num número maior de vezes. Na verdade, à medida que nos aprofundamos nos terrenos da física quântica ou da cosmologia, ocorre justamente o contrário e as explicações tornam-se cada vez mais complexas. Por isso é preciso compreender que a Navalha de Ockham não trata de descartar hipóteses só porque são mais difíceis de entender. O que ela propõe é que se descarte as hipóteses que em igualdade de condições com outras, possuem mais suposições ou mais pressupostos, já que quanto mais suposições, maior a chance de que alguma delas esteja errada.
Sendo assim, o princípio da economia de Ockham se revela uma diretriz, não uma regra; uma indicação de qual caminho seguir, não um sentido obrigatório; ou seja, apenas bom senso sistematizado, que no fundo é tudo do que trata o método científico.
Quando se diz que a teoria mais simples é a correta não se quer dizer que a teoria mais fácil de se entender é a correta. Em primeiro lugar porque simplicidade é um critério pessoal e subjetivo. Além disso a natureza certamente não tem vocação para a simplicidade; apesar de algumas leis fundamentais da física serem expressas de forma surpreendentemente simples (como as leis de Newton), isto não significa que a explicação mais simples seja sempre a correta, ou que seja correta num número maior de vezes. Na verdade, à medida que nos aprofundamos nos terrenos da física quântica ou da cosmologia, ocorre justamente o contrário e as explicações tornam-se cada vez mais complexas. Por isso é preciso compreender que a Navalha de Ockham não trata de descartar hipóteses só porque são mais difíceis de entender. O que ela propõe é que se descarte as hipóteses que em igualdade de condições com outras, possuem mais suposições ou mais pressupostos, já que quanto mais suposições, maior a chance de que alguma delas esteja errada.
Sendo assim, o princípio da economia de Ockham se revela uma diretriz, não uma regra; uma indicação de qual caminho seguir, não um sentido obrigatório; ou seja, apenas bom senso sistematizado, que no fundo é tudo do que trata o método científico.
10. Questionário:
- Para Ockham o que significa o termo mental?
- O que Ockham entende por definição nominal?
- O que significa o principio da economia ou
“navalha de Ockham”?
- Qual o valor e o sentido da verdade segundo
Ockham?
- Como Ockham resolve a questão dos universais?
- Que distinção faz Ockham entre potência absoluta
e potência ordenada de Deus?
- O que Ockham entende pelo conceito de Liberdade?
11. Bibliografia:
- Enciclopédia Mirador
Internacional // Revista Intelecto: 2013.
- Martins Filho, Manual Esquemático
de história da filosofia: 2000.
- Gilson & Boehner,
História da filosofia cristã, 2009.
- Reale & Antisseri,
História da filosofia, 2007.
Um comentário:
Muito bom seu texto. Gostei muito! Parabéns!!
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