A verdade que se
expõe
A
verdade que se expõe:
(Aristóteles, Metafisica IV;
Tomas de Aquino, S. TH., I, 2; 16; De Veritate I, 1; J. Maritain, Os graus do saber; Kant, E., C R Pura,
A; Heidegger, M., Ser e Tempo).
A verdade ontica:
A verdade come adaequatio:
A verdade ontológica:
A verdade metafisica:
A conveniência entre o ente e o intelecto que o
contempla se chama “verdadeiro” (verum), pois todo e qualquer
conhecimento se dá com a assimilação da coisa conhecida por um sujeito
cognoscente. Daí que a verdade seja uma relação. E tal relação é,
na prática, uma correspondência entre o intelecto e a coisa. Uma adequação (adequatio)
entre ambos. Todo ente, pelo simples fato de ser, é verdadeiro.
Só um não-ente poderia não ser verdadeiro.
A verdade e seu critério
Todos dizem verdadeira, a qualquer coisa se é
segundo a sua natureza; a afirmação verdadeira é aquela que responde à
realidade das coisas quais são em si mesmas.
A verdade (da consciência ou lógica) é sinônimo de abertura ao real, é
uma comunhão, comporta um crescimento, riqueza da mais nobre e desejável,
porque é abertura às coisas como são em si mesmas.
A verdade é sinônimo de objetividade pela
qual o objeto pensante se supera, transcendendo a si mesmo. A verdade subtende
normalidade psíquica e mental.
Se pois verdade é sintonia entre pensar e
ser, pensar verdadeiramente é ficar fiel ao ser, dialogar com o ser, deixar-se
dominar pelo ser. Se o ser é o objeto único e adequado do pensamento, o
critério fundamental da consciência é o mesmo ser enquanto luminoso e capaz de
informar de si ao sujeito pensante e se fazer
por ele afirmar que é ou não é em si.
O verdadeiro objeto do conhecimento humano é o homem, que pelo
composto corpo e alma é capaz duma percepção sensitiva subordinada à intuição
intelectiva. Sem intuição intelectiva capaz de colher o ser, não se dá
verdadeiramente o conhecimento físico, não redutíveis inteiramente a puros
fenômenos.
Adequação: (correspondência) = as coisas
são medida e garantia da inteligência. A verdade é que a inteligência se
acomoda à verdade em virtude de que a coisa exista ou não. Se a inteligência é
a medida, a verdade está em que as coisas se acomodem à inteligência.
Para a teoria da coerência, a verdade numa
afirmação consiste em se deixar encaixar sem contradição no conjunto de
afirmações dum sistema (isso não prova que de dá um único sistema coerente, e
supõe também como conhecido o significado de coerência).
Para que aconteça a verdade, pode-se
distinguir três elementos:
1)
uma declaração afirmativa;
2)
aquilo que se apoie
(realidade);
3)
a relação de retitude (a
proposição é verdadeira se o que afirma corresponde à realidade; a afirmação se
diz verdadeira mediante uma certa reflexão sobre os fatos que são verdadeiros).
O conhecimento não é simples espelhamento da
realidade, mas é atitude conhecitiva, pois cada ato de juízo implica sempre ou
afirma que sou eu quem afirmo, que sou eu que julgo. A afirmação é aquela forma
de conhecimento, que conhece enquanto diz as coisas assim como estão, e que são
verdadeiras ou falsa.
Relativismo: em respeito à verdade se
contradiz, falar de verdade relativa é uma contradição nos termos. Uma
preposição diz aquilo que diz e pronto. Simplesmente, absolutamente. A
absolutez da verdade segue imediatamente a do dizer. Toda preposição como tal
afirma qualquer coisa. O relativismo é uma contradição exercida, isto é, ente o
dito.
Seticismo: não há verdade. Nada se pode
afirmar com certeza.
Evidência: é a claridade que o objeto manifesta ao intelecto e que não possa
negar seu assentimento. Toda verdade não é evidente, mas todo juízo fundado
sobre a evidência é verdadeiro; não se pode ter evidências falsas, mas falsas
evidências, quando tomamos por evidente coisas que não são. A evidência é a
presença duma realidade como inequívoca claramente dada; o conhecido se acha
diante do cognoscente em sua mesma realidade.
Certeza: quando o entendimento se adere a uma preposição verdadeira.
Dúvida: o intelecto flutua entre a afirmação e a negação, há uma suspensão de
juízo; é um estado potencial, uma situação de inquietude; a dúvida universal é
impossível, porque há conhecimentos individuais, e que diz ter dúvida já sabe
algo.
Fé: a vontade move o entendimento a
assentir com certeza, sem medo que seja verdade a opinião contrária,
baseando-se no testemunho e autoridade do outro; não há temor de equívoco.
A verdade e o erro é no inteligível; existe
uma certa composição de conceitos - das
coisas que foram capturadas – ora tem verdade, ora falsidade nessa composição.
A composição é falsa quando o intelecto compõe elementos que não estão
compostos nas coisas; o erro é sempre na síntese dos fatos.
A verdade está na coisa que é verdadeira e
com o cognoscente verdadeiro. As coisas são verdadeiras quando têm a forma
própria de sua natureza. Conhecer a
conformidade do intelecto à coisa é conhecer a verdade. O senso julga mas não
conhece a verdade, conhece o próprio sentir, não conhece a própria natureza e
nem a natureza do ato, portanto, não conhece a verdade.
As condições ônticas e ontológicas do
sujeito
Sempre me quedei questionando qual é o limite
da condição ôntica do sujeito, ou seja, até onde
é possível viver e bancar a solidão da existência, qualquer que
seja ela; a de se estar sozinho, sem a presença física de alguém; a
de estar com alguém, mas sentir-se sozinho; e/ou, a de estar sozinho ou com
alguém e ainda assim saber que o outro, qualquer que seja sua
importância/função: amigo, namorado (a), marido, esposa, jamais preencherá a
condição existencial, que é absolutamente individual. Em outras palavras, mesmo
estando-se em presença/companhia de outras pessoas, será sempre necessário
lidar-se com a condição ontológica de cada sujeito.
Cada um aprende a lidar com as
condições ônticas e ontológicas de forma mui singular. Uns, preferem
casar-se, outros, terem filhos, alguns preenchem com amigos, bebidas,
drogas, religião, enfim, mas o que todos nós deveríamos de fato saber
é que a condição ontológica, existencial de cada sujeito, é prerrogativa e
decisão individual de cada um.
O outro é um fundamento axial, um vórtice na
verdade da descoberta de quem se é. Só é possível virmos a descobrir
quem somos no processo de construção e desconstrução de nossas sociabilidades e
identidades, portanto, negando, alterando, agregando e/ou negando a
condição ôntica dos outros sujeitos, ou mesmo afirmando. Não há
saída, viver é condição sine-qua-non de con-viver, viver com.
Nesse processo riscos e escolhas precisam ser
feitas. Ter amigos é uma, se apaixonar é outra, amar, é outra, embora a mais
primordial e fundamental, aliás, o que fundamenta
a própria existência. A existência em si já é uma prova de amor.
Há aqueles que por opção não querem se
apaixonar ou amar, não querem sofrer o risco do abandono ou da decepção, pois
sabem que uma vez apaixonados ou amando perdem o leme do barco, ficam à deriva
da força estioladora do que esses sentimentos são capazes de produzir, quase
sempre, ou sempre, deslocamento dos centros, refiro-me ao ego. Nem sempre
deslocar o centro do ego é ruim (aliás, conceitos como ruins, problemas,
negativos, precisam ser revistos porque só assumem essa conotação semiológica
quando observados sob determinados prismas, quase sempre do maniqueísmo).
Algumas pessoas só encontraram sua felicidade se se permitirem se deslocarem,
aprenderem a se doar, se entregar, caso contrário, serão eternamente um poço de
ego inflado, auto-referenciado, ou seja, perdem a possibilidade de, na troca,
doação, aprender com o outro o que não tem.
O que sustentam que o risco da entrega é uma
possibilidade de dor futura lancinante, deveriam se questionar porque
necessariamente "perder" é ruim, negativo, o que necessariamente
ganham por não perderem, o que querem sustentar, onde se localiza a fonte do
medo. Viver e conviver são duas grandes apostas. É preciso arriscar, ninguém
tem a fórmula do sucesso. A experiência faz no fazer-se, e cada experiência é
absolutamente individual, embora haja alguns que teimam ou insistam para que as
pessoas não vivam suas experiências no afã e desejo, também na presunção, de
saberem o que vem a ser melhor para cada um.
Quase sempre o "prejuízo" de
não viver determinadas situações é mais emblemática do que ter vivido e ter
exaurido, porque não viver situações que poderiam ter sido vividas é
resignificar a ausência o tempo todo, o não presente, é presentificar
um desejo compungido não realizado, portanto, eternamente redimensionado,
eternamente alimentado pelo desejo de tê-lo consumido.
A ausência nessas casos é mais forte do que uma condição objetiva
vivida, realizada, porque a ausência se nutre da vontade de potencia. Vazio não
existe, logo, situação não vivida, ou porque não se quis, ou não se pode viver,
é sempre carregada de desejo prenhe, sempiterno, ao passo que o desejo
consumado tende a exaurir-se, pois nisso consiste sua condição.
Assim, estamos todos cotidianamente
impelidos, e não convidados, a ter que lidar com nossas condições ônticas e
ontológicas, inerentes à existência, viver, estar vivo. Só se aprende
vivendo, vivenciando, se permitindo, se aceitando, aceitando o outro,
arriscando. Não tem outro jeito.
Aceitar a condição de que se está só no final
das contas é sempre o melhor caminho para a aceitação da solidão ôntica,
ou seja, sozinho consigo mesmo, pois é o primeiro passo para a descoberta da
nossa condição ontológica, logo, abertura para aceitação do outro. Só
é possível aceitar o outro quando nos aceitamos, primeiro sozinhos,
depois com alguém.
A verdade como Adaequatio
A verdade, para Tomás de Aquino, se dá como adequação. No sentido
formal, adequação do intelecto com a coisa, não obstante, considerando a
verdade ontológica como o fundamento da verdade lógica. Assim, a verdade,
enquanto produção da realidade no intelecto, não depende do juízo da alma, e
sim da própria existência da realidade.
S. Tomás afirma que as coisas, isto é, a realidade está situada entre
dois intelectos: o divino e o humano. E se diz verdadeira segundo a relação com
estes intelectos. Em relação ao intelecto divino, a coisa se diz verdadeira na
medida em que corresponde ao pensar criador de Deus, que a idealiza. Assim, a
verdade ontológica é definida como adequação de uma coisa com a ideia que a
pensa. Por outro lado, na relação com o intelecto humano, a coisa se diz
verdadeira na medida em que é apta a fazer com que seja conhecida pelo
intelecto humano; ou seja, na medida em que nos é inteligível.
E, neste sentido, Tomás afirma que todas as coisas são inteligíveis ao
intelecto humano, uma vez que a razão de sua inteligibilidade, como também a
inesgotabilidade de sua verdade seja o fato de sua condição de ser criatura. O
fato das coisas serem criadoramente pensadas por Deus, segundo o aquinate,
fundamenta o seu ser inteligível, como também o seu ser inesgotável ao
intelecto humano. Assim, concebendo as coisas como pensamento de Deus, infere
que nenhuma coisa é falsa, pois Deus é concebido como a verdade eterna, da qual
todas as verdades possuem o seu fundamento.
Desta forma, a verdade
ontológica é o fundamento da verdade formal. Assim como Tomás[1] afirma: “a verdade,
produzida na inteligência pelas coisas criadas, não depende do juízo da alma, e
sim da própria existência das coisas”. Neste sentido, pode-se compreender com
mais razão a teoria do conhecimento tomista, que afirma que o conhecer humano
inicia-se nos sentidos.
Acerca disso, ele afirma que o conhecimento inicia-se nos sentidos, mas
se constitui como algo espiritual; ou seja, universal pela ação do intelecto.
Enfatizando, assim, o aspecto espiritual da alma humana, que necessita do corpo
para conhecer. Condição, com efeito, que não nega a superioridade das potências
intelectivas sobre as sensitivas, que apresentam unicamente o aspecto passivo
frente o mundo, enquanto as faculdades intelectivas, embora apresentem um
aspecto passivo, são também agentes frente à realidade que se dá aos sentidos.
Portanto, a verdade, para
São Tomás, é enquanto tal independente de qualquer condição humana. O homem pode
até deixar de existir, mas a verdade continuará existindo, pois o seu
fundamento é o ser em si mesmo, compreendido enquanto Deus, o fundamento de
toda existência. Assim, a verdade entendida enquanto formalidade não corre o
risco de cair num relativismo, fruto de um subjetivismo negador da realidade,
enquanto fundamento de todo conhecer humano.[2]
Verdade
ontologica e metafisica:
Recorramos primeiramente ao Dicionário
Contemporâneo de Língua Portuguesa, e consultemos o verbeteverdadeiro.
Segundo Caldas Aulete, verdadeiro é o que tem verdade, o que é
conforme à verdade// significa autêntico // genuíno // certo, seguro, fiel //
que é realmente o que parece, que não tem mistura, puro // não simulado,
sincero.
Se passarmos ao exame do
verbete verdade, vamos verificar que a verdade é a qualidade pela
qual as coisas aparecem tais como são: significa realidade, exatidão, tal como
na expressão a verdade de um fato; sinceridade, boa fé, como na
expressão homem de verdade, homem sem verdade; opinião conforme com
o que realmente é.
O termo verdadeiro
aplica-se a proposições, a coisas e as pessoas. Se eu dizer, por exemplo:
“chove”, e estiver chovendo, essa proposição será verdadeira. Posso referir-me
a uma coisa, como por exemplo, o vinho verdadeiro. Assim falo de verdadeira
residência, aventura, ouro verdadeiro etc.
Posso aplicar o termo
verdadeiro a uma pessoa, e nesse caso ele é sinônimo de autêntico, ou de
verídico e veraz. A autenticidade do ser que justifica o uso do termo
verdadeiro deverá ser referida por um ideal ou regra. Assim, temos idéia do que
seja um militar, um homem reto, leal, corajoso e disciplinado. Em outros casos
o termo verdadeiro pode ser aplicado para indicar o seu caráter verídico ou
veraz. Verídico ou veraz é o caráter daquele que diz a verdade, que não
engana.
O termo verdadeiro e
verdade são análogos, isto é, não são usados sempre no mesmo
sentido nem em sentido completamente diferente, e isto é analogia.
Em segundo lugar, pode-se
definir a verdade, de modo geral, como a conformidade ou correspondência entre
o pensamento e a coisa ou objeto. Nesse caso, temos de nos haver com dois tipos
de verdade, a lógica e a ontológica.
A verdade lógica vem a ser
a verdade do discurso ou o discurso verdadeiro. É conformidade do
pensamento com a coisa, dando uma identidade entre o que é e a coisa pensada.
Como definiu Santo Agostinho: “Ea est veritas quae ostendit ed quod est” A
verdade é a manifestação daquilo que é. (De vera religione, c. 36, 66, PL
34 (1887), cl. 151).
A verdade ontológica é a
verdade dos seres, é a própria coisa enquanto inteligível, captável pelo
intelecto racional. Em relação ao ser inteligível podemos falar, também, da
conformidade da coisa com o pensamento normativo, de relação de correspondência
entre a coisa e o intelecto: um verdadeiro pintor, um verdadeiro professor etc.
Se a proposição estiver formulada de acordo com a coisa ou o ser, será
verdadeira, terá o caráter objetivo da verdade. Se a coisa ou o ser a que nos
referimos for, de fato, aquilo que pelo seu nome se concede, então podemos
falar de verdade ontológica.
Cuidado deve-se ter também
no emprego do termo verdade é veracidade. O termo verdade pode significar
verídico ou veraz. Verídico ou veraz é a qualidade daquele que fala a verdade.
Como observa Hartmann num discurso pode existir a veracidade sem a verdade. Um
discurso verídico pode ser falso. “É verídico o discurso daquele que esta
persuadido de exprimir a verdade, embora seja falso”. A veracidade depende da
vontade de quem escreve ou fala. Enquanto a verdade é questão de pensamento,
pouco importa que se tenha ou não a vontade de exprimi-la por meio das
palavras.
Platão
e a concepção da verdade.
“Se pode dizer a verdade ou
mentir, e que a proposição referente às coisas como elas são, é verdadeira,
vindo a ser falsa quando indica o que elas não são. Logo é possível dizer por
meio da palavra o que é e o que não é” (Crátilo, 385 b).
No Sofista (263 b) Platão
afirma que o discurso ou é verdadeiro ou falso. Uma proposição, insiste, é
verdadeira quando diz o que é, tal qual é, enquanto a falsa diz aquilo que não
é. Pouco antes o filosofo dissera que possuímos, para exprimir vocalmente o
ser, dois gêneros de sinais: os nomes e os verbos. Nomes apenas
(simples ideias), enunciados de principio ao fim, jamais formam um discurso,
assim como verbos enunciados sem o acompanhamento de algum nome. Ao dizer o homem
aprende, ensina Platão, temos um discurso que nos fornece uma indicação
quanto às coisas que são, ou se tornaram, ou foram ou serão. O discurso não se
limita a nomear, mas procede a um entrosamento de ideias, ao entrelaçar os
verbos com os nomes. Desse modo, dizemos que ele discorre e não apenas que
nomeia, e a este entrelaçamento chamamos discurso, lógon (Sofista, 262 a) Segundo
Platão existe verdade e falsidade. A verdade lógica é sempre objetiva, embora
como propriedade do juízo, ela exista na mente do sujeito pensante, ela não
pode ser chamada de subjetiva, pois isso indicaria que a verdade é algo de
puramente individual.
A verdade, portanto, não é
conhecimento. Este pode ser incompleto, enquanto a verdade vem a ser uma
propriedade que pode existir ou não existir num determinado conhecimento. Se um
conhecimento dito verdadeiro em determinada época for apontado por falso em
outra época é porque nunca foi verdadeiro.
Aristóteles e a concepção de verdade.
No livro VI da Metafísica,
o filosofo Aristóteles diz que a verdade não esta nas coisas, uma vez que é da
sua índole ser uma identificação que se opera no sujeito cognoscente com aquilo
que é conhecido. É por isso que toda verdade é objetiva, uma vez que, se ela
existe na mente do sujeito pensante, é como adequação com a realidade, é como
conformidade com a coisa, res, com a realidade. Mas, como vemos que
as coisas podem ser objeto de intelecção humana; quando verificamos que os
seres são inteligíveis, assim como as coisas ou fatos físicos são sensíveis, isto
é, apreensíveis pelos sentidos, então dizemos que o próprio ser das coisas
enquanto inteligíveis constitui, em relação a inteligência, a
sua verdade, assim como o próprio ser das coisas, enquanto apetecível a
uma vontade humana, constitui um bem ontológico, da mesma forma que cada coisa
na plenitude da sua estrutura é admissível e bela, por ser deleitável á
contemplação da inteligência e dos sentidos. Por isso, os metafísicos sempre
fizeram questão de caracterizar o ser como verdadeiro, bom e belo.
A Metafísica,
no entanto, reserva-nos mais uma surpresa no tocante a verdade. No livro IX,
10, Aristóteles procura demonstrar que o acerto de uma afirmação ou negação
depende da sua correspondência à ligação ontológica dos objetos conhecidos. “A
verdade ou falsidade das coisas depende, do lado dos objetos, da sua união ou
da sua separação. Donde, estar na verdade é pensar que o separado existe
separado, e o que está unido, existe unido; estar na falsidade é pensar de modo
contrário à natureza dos objetos (...) não é porque nós pensamos de modo
verdadeiro que tu és branco, que tu és branco”. Logo, como diz Tomás de Aquino,
“a disposição da coisa é a causa da verdade na opinião e na proposição”. Isso
indica, de acordo com o pensamento de Aristóteles, que há um nexo inegável
entre a procedência de um juízo e a sua fundação ontológica. Assim, o juízo
“Maria está sentada”, pode ser verdadeiro agora, e não o ser daqui a vinte
minutos, quando ela estiver em pé, e nesse caso o novo juízo “Maria está de
pé”, será, por sua vez, plenamente verdadeiro.
Essas considerações já nos
fornecem uma pista importante a respeito do caráter da verdade lógica. Ela
existe sempre na mente do sujeito pensante e tem fundamento no próprio ser da
coisa pensada, mas ela se incrusta, como uma propriedade, no fenômeno psíquico
do conhecimento. Este pode variar conforme as exigências do objeto. Se o objeto
for estável o juízo é sempre verdadeiro, se for mutável ele pode variar. No
tocante aos objetos mutáveis sempre haverá uma variação no conhecimento
na medida que o homem se esforçar para conhecer as coisas.
A concepção de verdade segundo Tomás de
Aquino
A doutrina de Tomas de
Aquino não é a concepção escolástica de verdade, uma vez que houve na idade
media várias correntes de pensamento escolástico. Na Suma Teológica, Tomás
discute se a verdade existe só no intelecto, ou antes, nas coisas. Em outras
palavras ele indaga se a verdade é lógica ou ontológica. Ele não confunde a
verdade ontológica com a pura realidade, mas demonstra que ela existe na realidade
como uma decorrência da verdade intelectual ou lógica.
Para Tomás a verdade é o
alvo para o qual tende o intelecto. O intelecto é um poder do sujeito que
conhece. Tomás aqui expõe a solidez de sua psicologia do conhecimento, onde o
homem é uma unidade substancial dotado de poderes intelectuais: passivo,
enquanto pura capacidade de compreensão, e ativo, um poder de elaboração de
ideias, juízos e raciocínios.
Como a verdade está no
intelecto, enquanto se conforma com a coisa entendida, necessariamente a idéia
de verdade deriva para a própria coisa entendida, de modo que esta se chama,
também, verdadeira, enquanto tem alguma ordenação para o intelecto. Ora, a
coisa entendida ordena-se para algum intelecto ou por si ou por acidente. Por
si, ordena-se para o intelecto do qual depende no seu ser; por acidente,
ordena-se para o intelecto pelo qual é cognoscível. Na verdade, o juízo a
respeito da coisa não se formula quanto ao que nela existe por acidente; mas
segundo aquilo que esta nela por si. Por isso, qualquer coisa se diz
absolutamente verdadeira em relação ao intelecto do qual não depende para
existir. O juízo se formula naquilo que esta no intelecto por si. A verdade
existe principalmente no intelecto, e secundariamente nas coisas, enquanto
essas se relacionam com o intelecto como seu principio. É em razão disso que a
verdade é conhecida e definida de modos diversos. Por isso temos uma definição
completa de verdade quando afirmamos que ela é adaptação da coisa e do
intelecto, isto é, conforme a inteligência com a coisa. Porém é o ser das
coisas que tornam o intelecto verdadeiro. Bem, deixo para os especialistas em
Tomás acrescentar alguma coisa, pois eu não sou.
Bibliografia:
NUNES, Ruy Afonso da Costa. A Ideia de
verdade e a educação. São Paulo: Ed. Convívio, 1978.
TOMAS DE AQUINO.
De Veritate. São Paulo:
Loyola, 2001.
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