- AGOSTINHO
1.1.
VIDA
Agostinho cria e tenta resolver problemas
filosóficos pensando em si e nos seus dilemas e inquietudes morais e
intelectuais. O que ele expôs como filosofia e teologia foram geralmente
respostas para questionamentos seus. As suas investigações têm como centro a
próprias características morais e intelectuais.
O objetivo de Agostinho é conhecer a alma, ou seja, a
sua própria interioridade e para isso ele tem que passar pelo conhecimento de
Deus. Ele busca desvendar os mistérios da fé e esta é o fim das suas
inquisições, mas a fé é também uma exigência e guia para que as investigações
sejam feitas.
A fé é um antecedente necessário da filosofia de Agostinho
e para ele a fé é a percepção de ter sido tocado de alguma forma por Deus. Essa
percepção além de mudar a forma de pensar muda também a forma de viver. A
filosofia é um meio para melhor pensar, para melhor compreender a fé. Mas a fé
não se coloca no lugar da inteligência, a fé incentiva a inteligência, o
pensamento é também condição para que exista a fé. O conhecimento também não
elimina a fé, esta se torna mais forte através da inteligência. A fé procura e
a inteligência localiza e descobre.
Agostinho busca conhecer Deus e a alma,
mas para ele essa busca é uma só, pois Deus se faz conhecer no interior da
alma. Para conhecer Deus devemos conhecer a nossa alma. É em nossa
interioridade que devemos tentar encontrar Deus. Se não buscarmos a nós mesmos,
ao mais profundo de nós mesmos, não encontraremos Deus e não vamos conhecê-lo.
Além de Deus ser amor, Deus é
a condição para que exista o amor. Para que possamos conhecer o amor de Deus
temos que estar amando as outras pessoas. A esse amor aos homens Agostinho
chama de amor fraterno ou caridade cristã. Amar a Deus é algo natural e intrínseco
à natureza humana, pois somos imagens de Deus nosso criador que é a verdade
eterna e a verdadeira eternidade.
Deus é o criador de tudo que
existe no tempo, mas ele é criador também do tempo. O tempo começou com a
criação, antes dela não existia tempo e Deus está fora do tempo, pois é eterno.
Em Deus não existe passado ou futuro, ele é imutável e um ser imutável como
Deus vive um eterno presente.
Para agostinho o tempo do homem é medido
pela alma e para nós existe um passado e um futuro porque somos seres mutáveis
e não podemos viver em um eterno presente. O passado é uma memória guardada na
alma e o futuro é a alma que espera os acontecimentos. O presente é um
constante deixar de ser tanto do futuro como do passado, é uma intuição.
Existem, portanto três tempos presentes, o presente do passado, o presente do
presente e o presente do futuro. Esses três tempos encontram-se em nossa alma.
O mal em Agostinho é o amor por si
mesmo e o bem é o amor por Deus. Os homens que vivem para amar Deus formam a
Cidade de Deus e os homens que vivem para amar a si mesmo formam a Cidade dos
Homens. Na cidade de Deus vive-se segundo as regras do espírito e na cidade dos
homens vive-se segundo as regras da carne. As duas cidades vivem mescladas uma
com a outra desde que iniciou a história da humanidade e assim ficarão até o
fim dos tempos. Cada ser humano tem que se questionar para saber a qual das
duas ele faz parte.
Deus não criou o mal. Agostinho acreditava
que um ser em que só pode residir o bem não pode ser o criador do mal. Tudo que
existe é bom e o mal é a ausência desse bem, é a ausência de Deus. Deus nos
concedeu o Livre-Arbítrio, que é a nossa capacidade de decidir conforme nosso
entendimento, e é dele que vem o mal. Deus nos criou independentes para que
pudéssemos decidir por nossa vontade e através de nossa liberdade escolher o
bem e não o mal. Quando o homem escolhe o mal ele se afasta de Deus.
Renuncia ao racionalismo (noção de
espirito, inicio pela fé), ao materialismo (luz espiritual, diversidade entre o
ser absoluto e o ser participado, mal como privação do bem e o mal como tal,
não existe e não se origina de Deus), ao ceticismo (evidencia imediata dos
fatos, a evidencia do cogito, as verdades logicas e a evolução do ceticismo).
1.2.
Influências
a) S. Monica: mãe, empenhou-se pela sua conversão;
b) Cicero: despertou o seu interesse
pela filosofia e pela retorica;
c) Maniqueísmo: o bispo Fausto e a sua
doutrina maniqueísta.
d) Plotino: neoplatonismo per superar
as incoerências maniqueístas;
e) S. Ambrósio: ver a inteligibilidade
das Sagradas Escrituras.
1.3.
PRINCIPAIS
OBRAS
a) As confissões: relato de sua vida e
conversão; contem um hino de louvor a Deus, conhecimento profundo das próprias
fraquezas humanas e exaltação da bondade e da providencia divinas.
b) A Trindade: obra prima
filo-teológica; em 15 livros sobre a
doutrina da Trindade e baseando nas Escrituras busca explanar e resolver as
dificuldades sobre a doutrina trinitária.
c) A cidade de Deus: visão teológica da
história; apologia do cristianismo contra as acusações dos gentios que os cristãos
teriam destruído Roma.
d) De libero arbítrio: versa sobre a
origem do mal, a liberdade e a razão porque Deus nos dotou de uma vontade
livre, embora previsse o mau uso que dela faríamos.
1.4.
PRINCIPAIS concepções
a)
Filosofia cristã: fé como “cogitare
cum assensione”, forma de conhecimento cuja relação com a razão não é
excludente, mas complementar: “credo ut
intelligam et intelligo ut credam”.
b) Pessoa: homem imagem da SS.
Trindade. O problema não é o cosmos, mas o homem, considerado individualmente:
o EU cuja vontade se confronta ou se conforma com a vontade de Deus. A natureza
do homem (espiritualidade, imortalidade). O retorno das criaturas para Deus (a
alma como imagem de Deus: mente, conhecimento, amor; do exterior para o
interior e dai para além do espirito.
c) Verdade: teoria da iluminação: as
coisas corpóreas são mutáveis e corruptíveis, os conceitos que delas formamos
pela razão são necessários, imutáveis e eternos. De onde a alma retira esse
critério de conhecimento? De uma lei que é verdade, que está acima de nossa
mente. O intelecto é constituído das ideias, que são transmitidas à mente por
Deus. Conhecimento sensível, a alma produz a sensação, a interioridade do
pensamento, o mestre interior. A reminiscência, a inquietação da alma em busca
de Deus, a razão superior e a razão inferior, a sabedoria cristã.
d) Deus: é todo o positivo que se
encontra na criação, sem os limites que nela existem: a perfeição do mundo
exige um artífice, universalidade do fenômeno religioso e vazio interior do
homem, que somente pode ser preenchido plenamente por Deus. Existência de Deus
(a boa fé, a fé, conhecimento sensível e intelectivo).
e) Criação: a teoria das ideias de
Platão é incorporada como os pensamentos de Deus, que inclui tudo o que se pode
criar, que não se tira de sua substancia, mas do nada. Deus criou virtualmente
todas as possibilidades de concretizações dos seres, que se vão desdobrando com
o passar do tempo. A criação do nada, a
causa do ato criativo de Deus: a sua vontade.
f) Tempo: criado juntamente com o
mundo, como medida do movimento. Existe apenas no espírito humano, como memória
do passado, intuição do presente e espera do futuro. Algo enigmático,
g) Mal: não é ser, mas deficiência e
privação do ser: ontológico (não existe mal,
mas apenas graus inferiores de ser em relação a Deus); moral (é o pecado como aversão a Deus pela conversão às criaturas); físico (doenças e sofrimentos – consequências
do pecado original).
h) Liberdade: poder de usar bem o
livre-arbítrio. É própria da vontade e não da razão. Somente com a ajuda da
graça divina é possível fazer sempre o bem. Liberdade é a boa vontade, o “uti”
e o “frui”, a perfeição do amor na
liberdade.
i) História: desenvolvimento da “Cidade
de Deus” no meio da “cidade terrena”. Dois amores, de Deus e próprio,
construíram as duas cidades. O homem bom não é o sábio, mas o que ama a Deus, o
verdadeiro amor coincide com fazer a vontade de Deus. O amor como fundamento da
comunidade social, a paz como objetivo, a ordem; o convívio dos dois estados.
1.5.
Apreciação
busca teológica
antes que filosófica;
Combate teológico
contra os maniqueístas, os donatistas e os pelagianistas.
União entre
vida e doutrina.
influência
sobre a construção do estado social no ocidente.
1.6.
Questões
a) Qual a crítica de Agostinho aos
sistemas dos donatistas e pelagianistas?
b) Por que para Agostinho filosofia,
sabedoria e felicidade coincidem?
c) Qual a diferença entre “verdadeira
filosofia” e “verdadeira religião” em Agostinho?
d) Qual a relação entre pecado original
e graça em Agostinho?
e) Como acontece o movimento sobre o
qual a alma, superando as sensações,
chega ao divino?
f) Que nexo existe entre a alma e o
tempo segundo Agostinho?
g) Como Agostinho descreve a presença
do mal no mundo?
1.7.
TEXTOS:
a) Bem e Corrupção
Vi claramente que todas as coisas que se corrompem são
boas: não se poderiam corromper se fossem sumamente boas, nem se poderiam
corromper se não fossem boas. Com efeito, se fossem absolutamente boas, seriam
incorruptíveis, e se não tivessem nenhum bem, nada haveria nelas que se
corrompesse. De facto, a corrupção é nociva, e se não diminuísse o bem, não
seria nociva. Portanto, ou a corrupção nada prejudica - o que não é aceitável -
ou todas as coisas que se corrompem são privadas de algum bem. Isto não admite
dúvida. Se, porém, fossem privadas de todo o bem, deixariam inteiramente de
existir. Se existissem e já não pudessem ser alteradas, seriam melhores porque
permaneciam incorruptíveis. Que maior monstruosidade do que afirmar que as
coisas se tornariam melhores com perder todo o bem?
Por isso, se são privadas de todo o bem, deixarão totalmente de existir. Logo, enquanto existem são boas. Assim sendo, todas as coisas que existem são boas e aquele mal que eu procurava não é uma substância, pois se fosse substância seria um bem. Na verdade, ou seria substância incorruptível, e então era certamente um grande bem, ou seria substância corruptível, e nesse caso, se não fosse boa, não se poderia corromper (Santo Agostinho, in 'Confissões').
Por isso, se são privadas de todo o bem, deixarão totalmente de existir. Logo, enquanto existem são boas. Assim sendo, todas as coisas que existem são boas e aquele mal que eu procurava não é uma substância, pois se fosse substância seria um bem. Na verdade, ou seria substância incorruptível, e então era certamente um grande bem, ou seria substância corruptível, e nesse caso, se não fosse boa, não se poderia corromper (Santo Agostinho, in 'Confissões').
b) "Tarde Vos amei,
ó Beleza tão antiga e tão nova,
tarde Vos amei!
Eis que habitáveis dentro de mim,
e eu, lá fora, a procurar-Vos!
Disforme, lançava-me sobre estas formosuras que criastes.
Estáveis comigo e eu não estava Convosco!
Retinha-me longe de Vós
aquilo que não existiria,
se não existisse em Vós.
Porém, chamastes-me,
com uma voz tão forte,
que rompestes a minha Surdez!
Brilhastes, cintilastes,
e logo afugentastes a minha cegueira!
Exalastes Perfume:
respirei-o, a plenos pulmões, suspirando por Vós.
Saboreei-Vos
e, agora, tenho fome e sede de Vós.
Tocastes-me
e ardi, no desejo da Vossa Paz"
ó Beleza tão antiga e tão nova,
tarde Vos amei!
Eis que habitáveis dentro de mim,
e eu, lá fora, a procurar-Vos!
Disforme, lançava-me sobre estas formosuras que criastes.
Estáveis comigo e eu não estava Convosco!
Retinha-me longe de Vós
aquilo que não existiria,
se não existisse em Vós.
Porém, chamastes-me,
com uma voz tão forte,
que rompestes a minha Surdez!
Brilhastes, cintilastes,
e logo afugentastes a minha cegueira!
Exalastes Perfume:
respirei-o, a plenos pulmões, suspirando por Vós.
Saboreei-Vos
e, agora, tenho fome e sede de Vós.
Tocastes-me
e ardi, no desejo da Vossa Paz"
Santo
Agostinho
Nenhum comentário:
Postar um comentário