Da insônia
Noites
sufocantes, onde a falta de sono e a presença insistente de pensamentos e
preocupações transformam o momento do repouso em verdadeira batalha; desejos
insanos e sentimentos de falimento, de decepção e de angústia. Essa realidade sombria
e infame invade o espaço da contumaz
sonolência e relaxamento e provoca náusea, irritação e perplexidade.
A
insônia pode ser causada por diferentes e variados fatores, todos sabemos bem,
desde uma alimentação mal digerida até à administração de fármacos em função de
outros benefícios; a insônia provoca na pessoa uma constatação de que o sono
seja um momento de separação do mundo real e que esse momento ajuda na
sublimação de tantos problemas e contribui para o bem-estar do indivíduo, não
quer para sua estabilidade emocional e profissional. Entretanto, no sujeito que
padece de insônia por causa emocional, essa estimula e proporciona além dos
efeitos físicos e psicológicos, um efeito caraterial.
Debatendo-se
entre os lastros da cama e a profusão de revigorantes imaginações, a insônia se
faz presente por um mal-estar ou por uma situação não resolvida ou bem
esclarecida, isso porque a ânsia não deixa o individuo relaxar e os neurônios
se digladiam entre forjar uma vingança ou estruturar planos para superar o nexo
que desencadeia a reação vigilante da pessoa; entre passar em resenha todos os
gestos, palavras e atitudes, a insônia desperta uma violenta imagem de um que
combate ao interno as próprias pulsações.
De um lado é uma noite frutuosa, ideias e arquiteturas veem fora e de
outra parte provoca uma comiseração que agarrando aos gemidos mais ancestrais,
pode jogar o sujeito na lama miserável de uma satisfação na vivência dos
instintos mais baixos, ou seja, de violência, ódio, paixões e revanches.
Depois
de uma noite insone sou profícuo e capaz de recordar teses inteiras de
argumentos e aglutinações filosóficas, mas também sou propenso a empurrar no
primeiro penhasco quem de maneira pegajosa se faz insistente em assuntos não
propensos. Nessas noites sombrias e longas, onde me perco nos meus próprios
devaneios, vejo como sou feito realmente, porque o meu subconsciente se
evidencia e as resoluções mais nobres ou mesquinhas aparecem como parte
integrante do meu ser.
A
insônia é fruto de uma esperança não correspondida ou um desejo equivocado? São
feridas ensanguentadas ou desproporção de resposta? É somente uma falha
físico-material ou um profunda necessidade de completitude? Por que os sem-sono
são irrequietos e ansiosos na maioria dos casos? Qual a ligação entre dormir e
acalmar os instintos? Por que o correr interno parece ser uma ferida sem
limites? Como encontrar a força e a decisão de ingerir o remédio adequado ainda
que cause uma dor maior no momento? Como superar essa sensação de vazio e de
solidão que o individuo insone possui?
Nenhum comentário:
Postar um comentário