Morrer é ...

Morrer é se deixar ir…




Morrer não é simples e não é fácil também. O morrer é cessar as atividades, abraçar terra desconhecida e desaguar no nada. Para quem fica o que resta? Saudades e vazios. Saudade de quem amamos, convivemos e compartilhamos. Vazio da presença, da vulto e do sentimento.
O que traz a morte? Por um lado somos acorrentado pela sensação de distância e experimentamos a ausência. Distância dos que um dia caminhamos juntos e ausência pela separação. Distantes sim pois vivemos em mundos diferentes, ausentes a causa da ruptura natural, mas unidos pelo amor, que supera qualquer barreira.
O que sentir por esses que já não estão senão gratidão e elevar aos céus nossas orações? Gratidão pela oportunidade de ter conhecido, compreendido e dividido as vidas. Orações pelo repouso, pelo descanso e pelo reencontro. 
Neste dia apalpamos de perto muitas tristezas e outras tantas memórias. Tristeza por não poder alcançar com o aconchego a quem amamos e memória de tudo que se viveu e se experimentou juntos. A tristeza que deve dar espaço para a esperança e a memória que deve ceder à atualização.
Nós pobres mortais,  talvez pela certeza de nossa vida passageira, apegamo-nos facilmente e por isso a dor das perdas e lastimamos em tantas recordações. Perder faz parte da construção processual de cada história, mas queremos somente acumular. Recordar faz reviver os momentos de comunhão ou de confronto, mas ativa a convicção de que se está vivo.
Perante a morte se transmite muitos medos e intermináveis lamúrias. Por um lado por não ter vivido tudo que se poderia, por outro o remorso do abandono e ainda a culpa de não ter amado e ter dito isso a quem não se pode mais expressar, a não ser na confiança de eternidade.
É sim, morrer é se deixar ir…, ir pelo desânimo e pela descrença. Morrer é se deixar ir pela mania de querer tudo e não aceitar as eventualidades, ainda que penosas. Morrer é se deixar ir por caminhos que obstaculizam o gosto e a alegria de viver. Morrer é perder a fé na promessa de eternidade. Morrer é se deixar levar pelo vagão da indiferença e do comodismo. Morrer é se fazer surdo aos apelos de afeto e perdão que muitos irmãos clamam incessantemente. Morrer é não deixar que a vida seja ela mesma.

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