O Poder déspota

O Poder déspota


“A ânsia de poder não é originada da força, mas da fraqueza”.


Por Pe. Jorge Ribeiro[1]


Segundo o filósofo grego Aristóteles (Metafísica) todo homem deseja naturalmente conhecer e o pensador italiano Maquiavel (O Príncipe) disse que todo homem ambiciona o poder. Entre uma afirmação e outra, emerge características que revelam a estrutura do ser humano. O homem quer conhecer, possuir, buscar para se reconhecer e manifestar o seu ser como humano, capaz de tantas coisas e assim poder se encontrar.
Entre as diferentes manifestações do ser do homem, o poder aparece como um traço problemático, dado que geralmente esse se mostra como domínio, superioridade ou distorção. O poder seria para ser exercido como serviço, mas na prática ele embriaga e envaidece os indivíduos que acabam se tornando uma ferramenta de corrupção e busca desenfreada de controle, ou seja, o poder corrói e muitas vezes distorce o seu papel.
As formas como as pessoas praticam o poder variam. Entretanto, o poder quando praticado como meio de autoafirmação se absolutiza e tiraniza, isso quando não se torna em ditadura. O poder tem também a proeza de revelar as pessoas como realmente são, isto é, de se mostrarem sem máscaras ou submissão, como se sentem essencialmente e se apropriando das palavras de Lincoln, que profetizou: “Quase todos os homens são capazes de suportar adversidades, mas se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder”.
O poder mal compreendido ou usado em benefício de engrandecimento pessoal acaba por transformar um instrumento de facilitação em um monstro que devora e quer cada vez mais se engrandecer. A sombra do poder provoca desconfiança, medo e sujeição, dado que tantas vezes esse se define ou se apresenta como detrimento da liberdade, um elogio ao incorreto ou revelação do lado obscuro das pessoas e da sociedade.
Seria o poder uma manifestação da sombra individual ou coletiva? As formas distorcidas do poder, seja individual ou coletiva seria a espécie de um colapso generalizado de inferioridade? O poder exercido de modo dominador revela a fraqueza ou explicita a ânsia castradora de quem a executa? É uma forma de defesa de si e do grupo? Quer dizer, um modo de se impor e de se afirmar como tal? Talvez o poder transformado em instrumento de repreensão seja a transferência da responsabilidade e da maldade ao outro e como meio de camuflar e exprimir a própria identidade, como justificativa e personalização das feridas dos não amados.
O autoritarismo que tanto conceitua o modo como o poder, e qualifica quem assim o faz como déspota, é gerenciado, acaba por revelar o seu  lado sombrio e negativo, isto é, de fechamento, intolerância, violência, egoísmo, irracionalidade e massificação despersonalizada. E quando o mau-humor, a mesquinhez e a falta de gosto pelo que faz se tornam assíduos, revelam os limites e as fantasias hipocondríacas de tais sujeitos. E quais as reações do poder ditador quando se percebe desafiado ou renegado? O ódio, a vingança e o castigo. Atentos! Caminha-se para uma ditadura global na qual o poder é metodologia de intimidação, ameaça e negação dos direitos primordiais. O processo de civilização para uma construção mais pacífica deve começar pela consciência e integração do lado sombrio do sujeito e da sociedade, ainda que seja uma verdade incômoda para quem assume a figura do poder. 




[1] Estudou filosofia, teologia e antropologia. Professor de filosofia.

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