A falta de silêncio
É um dado do qual
não se pode escapar: vivemos em um marasmo generalizado, tanto no mundo
sociocultural, quanto no mundo acadêmico e religioso. Essa normatividade que
provoca certa anestesia nas atitudes das pessoas foi o pano de fundo das vinte
cinco (25) razões para não se acreditar, que Bernhard Welte descreveu no
itinerário do homem contemporâneo, ou seja, da passagem do crer ao nada.
O pensamento
fantasioso e demasiado objetivista é o primeiro obstáculo, o homem não tem
consciência que seu pensamento é ferido, falho e, sobretudo, perigoso, pois não
mais se coloca a pergunta sobre o ser das coisas. O segundo é o esquecimento dos próprios limites,
quando não se percebe a barreira do horizonte ôntico – cientifico, o da
interdependência dos entes e aquele que o próprio mundo nos obriga. O terceiro
se mostra como a exaltação dos bens materiais e a desmesurada confiança na
ciência, que se pretende salvadora. Em quarto vem a absolutização das coisas e
a anulação do tempo e do espaço como dons é outro obstáculo a crer.
O quinto
impedimento a crer seria o desaparecimento do entusiasmo, o não se espantar
mais diante das coisas e das novidades. A sexta barreira seria mesmice e a vida
sem investigação, para muitos os métodos e as normas paradigmáticas são
suficientes para um novo conhecimento. Não se pergunta pelo ser das coisas, mas
ha um contentamento na descrição normativa. A sétima barreira se apresenta como
a renúncia das grandes questões, quer dizer, o medo de colocar a realidade dentro
de grandes projetos inibe as grandes interrogações.
A oitava falha
seria a falta de grandes nomes, não se tem grandes homens capazes de suportar o
peso das grandes ideias, isso desencoraja também. Nona aparece como a
inexistência de utopias e sonhos, onde a luta pela sobrevivência e pela
vantagem falam mais alto, isto vem como um apaziguar-se com as migalhas e
abandonar as aspirações. A décima barreira à crença se mostra como arrogância
das propostas, como ideias regulativas e não como pensamento ferido.
Um outro limite ao
crer é a ausência da graça, se faz calar a voz de tudo que soa religioso,
divino, assim impossibilita o crer. O ponto central, que tomamos como título
dessa reflexão, é a falta de silêncio, não se pensa o ponto inicial das coisas
e da própria vida, mas se enche de coisas e sons. O outro limite unido ao
anterior é o medo do diálogo, um vício a não falar com o Tu, desprende a ter
uma relação eu-tu.
A outra causa para
não crer seria a desconfiança, essa suspeita em relação ao outro e ao desconhecido.
A outra dimensão seria a inflação do amor, ou seja, o conformismo que leva o
amor a ser instrumentalizado. Um outro impedimento seria o problema histórico,
dado que se absolutiza os eventos que são historicamente comprovados. A Mania
de grandeza seria esse fator para se resistir ao crer. Um outro seria a fragmentação ou rejeição da
condição de escutar o outro.
A não consciência
do próprio nada aparece também como impedimento ao crer, não reconhecer os
limites humanos nas suas infinitas manifestações.
Não querer, não
saber e não ter, ou seja, deixar-se possuir pelo vazio, ou seja, resistir a não
ser nada, isso também impede a pessoa de acreditar. Somente se esvaziando é que
se pode se reconhecer como tal. Desse modo, a apropriação é um outro impedimento,
para crer precisa praticar o isolamento,
o desapego de si e das coisas, um destaque solitário. A falta de política do
amor, isso dificulta a crença, pois é preciso que a inteligência criativa
supere aquela instrumental.
Ele ainda coloca
que uma Igreja distraída também seria uma das razões para não se crer, pois
somente uma igreja que faça a diferença e não que pratique a diferença pode dar
um testemunho atraente. Somente quando Ela seja garantia do depositum fidei e profética então ela é
construtiva.
A penúltima
barreira é a temporalidade do ser, quer dizer, como esse tem se manifestado no
tempo, a sua epocalidade, como ele tem se revelado ou desnudado. O ultimo item
no impedimento do crer é o eclipse de Deus, a morte anunciada, sentimentos hostis
em relação à fé. Somente no silêncio que o homem percebe que ele é livre mesmo
diante de Deus.
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