A verdade abriu a boca!
Por Jorge
Ribeiro
Não ha como ter um
pensamento, que seja situado, sem recorrer à tradição, mas isso não impede a
atualização e o envolvimento da realidade da cercania. O ponto de partida de
uma reflexão quase sempre é a carência, o desejo de fundamento. Essa indigência
que nos caracteriza como seres perambulantes não deve nos acomodar ou impedir
de irmos em busca da clareza e da seriedade das coisas. Diante de tantos
falatórios, de tantas propostas e pretensões, qual o papel da verdade?
Ela está submetida
às coerências ou conveniências empanadas de grandiosidade ou subsiste
independentemente das adesões mais ou menos arrojadas? A verdade não pode se
calar! Ela precisa ser ouvida, ainda que faça sangrar, somente ela tem o
bálsamo para cicatrizar as feridas que tantas idas e vindas provocam. Nem o
ressentimento, nem o aviltamento ou a resiliência conferem uma afirmação que não
se tombe perante o desnudamento do ser. Precisa ser desmascarada essa maneira
ultrajante de se afirmar algo, negando
de modo pernicioso o outro e sua apropriação (www.pjribeiro.blogspot.com) .
Onde está a
veracidade da verdade? Na sua capacidade de adesão ou na força do seu
argumento? Talvez esteja na consciência e na persuasão de quem a revela? Não se
pode em nome da tolerância produzir uma enganosa aparência de verdade e muito
menos negar a sabedoria em função duma paixão desmemoriada que se julga
superior e por isso quer se impor. O espírito tem exigências variadas, todos
sabem disso, mas a explosão de sua importância se encontra na inegociável certeza
que carrega consigo. Nesse tempo em que as aberrações subjetivistas tendem a
ser critério de verdade ou parâmetro de atitudes, como lidar sem se deixar
contaminar pela virulência dos criticismos a moldes das lives e outras portadas virtuais? A truculência e a banalidade regadas pela
extrema sensibilidade nos acuam e nos colocam brides, pois todo esforço da
razão e do bom senso parece não encontrar mais terreno, nem mesmo nos
tradicionais guardiães do sentido.
Essa tragédia profetizada
do mascaramento da realidade abala as estruturas da vida, onde incertezas ou
forjadas evidências são propostas ou defendidas como direção e desenvolvimento
do mundo. Como lutar pela verdade? A indignação de quem não se acostuma com a
mediocridade do dado e a revolta de quem não tem ciúmes da própria vontade de
aparecer, e não se importa muito com as opiniões, continua sendo a
possibilidade de acolhimento do encontro sem contudo ser obrigado a uma sujeição
que quer forçar a encobrir a verdade. A verdade precisa de profetas e de mártires
para que sua boca não seja suplantada pela projeção consumista que quer substitui-la
pela prosperidade.
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