O
Carteiro e o Poeta.
O que é essa
danada inquietude que nos faz estrangeiros dentro da própria casa? Qual o
sentido da vida quando não se contenta com o dado e busca atingir novos
horizontes? Tudo isso tece a trama
central e existencial do “O Carteiro e o Poeta”.
As indicações a
seguir sobre o filme são partir da literatura publicada no site www. :
Il Postino ('O Carteiro e o
Poeta') é um filme
dirigido por Michael
Radford e fala sobre a
amizade entre o poeta chileno Pablo Neruda e Mario, um humilde carteiro
italiano que deseja aprender a
fazer poesia.
Baseado no livro Il
Postino de Antonio Skármeta. O roteiro foi adaptado por Anna Pavignano, Michael
Radford, Furio Scarpelli, Giacomo Scarpelli e Massimo
Troisi que também
interpretou o carteiro. A história se passa na Itália nos anos 50.
Resumo: Por razões políticas o poeta Pablo Neruda se exila em uma ilha
na Itália. Lá, um desempregado quase analfabeto é contratado como
"carteiro" extra, encarregado de cuidar da correspondência do poeta.
Gradativamente se forma uma sólida amizade entre os dois. O carteiro Mario, aos
poucos, aprende a escrever seus sentimentos por Beatrice, e Neruda ganha, em
troca, um ouvinte compreensivo para suas lembranças saudosas do Chile.
Ficha
técnica:
Data de
lançamento: 22 de setembro de 1994 (Itália)
Prêmios: Oscar de melhor banda sonora, Prêmio BAFTA
de Cinema: Melhor Trilha Sonora Original, Prêmio BAFTA
de Cinema: Melhor Direção, Prêmio da
Academia Japonesa de Cinema para Melhor Filme em Língua Estrangeira, Prêmio BAFTA
de Cinema: Melhor Filme Estrangeiro, Critics'
Choice Award: Melhor Filme Estrangeiro, Prêmio David
di Donatello de Melhor Edição.
- Elenco: Massimo Troisi, Maria Grazia Cucinotta, Philippe
Noiret, …
Análise do
filme:
As longas
estradas a percorrer: a inquietação, os
porquês, o desejo que impulsiona a busca de si mesmo.
A possibilidade que se abre
com uma vida diversa da comum no lugar onde se vive: os grandes sentimentos
nascem das coisas comuns.
O fascínio da poesia: um diálogo entre o mundo
concreto e um mundo que busca o seu fundamento. A poesia explicada se torna
banal. As palavras balanceiam como as ondam do mar. Como um barco balançando no
meio das palavras, pois “as palavras são as piores coisas que existem”.
A aproximação e confiança: o que parecia uma relação
improvável, tornou-se uma amizade, ou seja, o outro, ao menos para o carteiro,
não se resumia a pura função ou personagem, mas um vínculo que oferecia a
chance de concretizar os próprios desejos, ou seja, o Carteiro percebia no
Poeta a real ligação entre os próprios sonhos e desejos e suas
realizações. O que seria uma curiosidade
e uma tentativa quase desesperada de se aproximar da amada, mostrou-se como o
salto qualitativo e um horizonte a ser explorado.
A pergunta por algo a mais: “estou cansado de ser um
homem”, o que significa, estou cansado do mundo que mim é oferecido e dado e
que almejo algo que responda melhor meus anseios de realização e que me
satisfaça? Seria apenas a constatação de que as coisas e pessoas ao derredor
não são mais suficientes? Ou que somos feitos para abraçar o infinito e a
mesmice nos impede de olhar diversamente o futuro? Estou cansado de ter a mesma
sorte de todos e de não ser eu mesmo?
As metáforas: a linguagem para falar do
extraordinário, quer dizer, da vida, do amor, do divino. Tudo é metáfora de
algo que existe, diz o filme: “o mundo inteiro é metáfora de alguma coisa”, que
as coisas aparentes são sinais de outras coisas, ou seja, que existe um
fundamento que ultrapassa a simples manifestação do existente.
O que faz o homem um ser singular e na constante busca
de si por além de si mesmo? A
inquietação, a solidão, a nostalgia, o desejo, a esperança… O filme mostra esse
homem que na quase desesperada busca de si e do significado mais profundo da
sua existência, acaba por ter na poesia e na figura de Neruda, a possibilidade
de extravasar as suas sedes; o referido, o corriqueiro já não pode abarcar os
seus limites, faz-se necessário caçar além de si e dos seus por algo que possa
vir a preencher o seu vazio. O novo, o diverso ressoa o seu som e faz revigorar
e despertar o que se encontrava adormecido, ou seja, do encontro com o outro,
com o diverso nascem a coragem e a esperança. O desejo não é simplesmente
desejo, é vida que brota e que pode se realizar.
Na sublinhada frase de Neruda: “Sinto falta do mar.
Sinto falta dos pássaros. Manda para mim os sons de minha casa”, denota a
nostalgia pelo vivido, mas também a insatisfação que se experimenta sempre. A
poesia é a revelação dos sentimentos que denotam a expectativa por uma
realização.
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