Razoes para seguir!!

Razões para seguir


O que esperamos da vida? O que o futuro nos reserva? Qual o valor de nossos esforços? Para que tanta fadiga para se terminar no nada? Qual o sentido da nossa existência?
Não são apenas perguntas ou interrogações de cunho existencialista ou angústia de pretensos intelectuais, para mim esses questionamentos são sempre presentes, invadem e atravessam tudo aquilo que digo e faço; olho para as pessoas, o movimento que essas fazem para conseguir algo e toda uma luta para se chegar a nenhum lugar.
Por um lado, muitos vivem a indiferença e a miséria da própria solidão e, por outro lado, o único predicado destinado a complementar essas pessoas é o vazio, a ausência de significado para o que se vive, um niilismo generalizado. Essa falta de objetivo possibilita reações e gestos extremos, desde a apatia da depressão até o suicídio coletivo ou a chacina.
Parece que não se tem critério de veracidade e de verdade além da conveniência e do gosto, o que significa um relativismo que permeia os relacionamentos e o posicionamento das pessoas. Dando-se o mesmo valor a tudo, acaba-se por negar a importância de cada coisa. Aceita-se tudo, mas sem capacidade de compreensão das diferenças, porque imposição não gera tolerância, mas apenas trégua. E as pessoas se suportam reciprocamente, sem acolher de fato umas às outras. E tudo isso para que e por que?
Caso não haja uma razão mais profunda por tudo que nos dedicamos, para que toda a fadiga de estar sempre dentro dos limites da aceitação e da superação? Somos sujeitos que caminham errantes, entretanto, esse percurso pode ser esperançoso de uma terra prometida ou um simples caminhar, vagando e vagueando sem destino e sem fisionomia.
Aprendemos a viver no sincretismo religioso, politico e cultural, onde o pluralismo de concepções leva ao indiferentismo, ao relativismo ou ao fundamentalismo, sem uma metodologia que leve ao maior conhecimento. O subjetivismo pessoal e coletivo ditam os critérios e as regras do poder, da responsabilidade e dos valores (Bonsignori) e assim defendemos, apoiamos, rejeitamos e negamos em igual medida a guerra, a fome, a paz, a violência, a solidariedade e os direitos, sem muito discernimento e com forte dose de legalismo subjetivo.
Ainda somos imaturos para reconhecer nos outros um outro eu e, desse modo, a alteridade aparece não como relação eu-tu, mas como um eu que me aproprio de tu, ou seja, geralmente não estamos com o outro, pelo fato de ser esse outro um sujeito para mim, mas apenas porque necessito desse outro, uma relação de objetivação e de apropriação e não de gratuidade existencial e afetiva.
Todo esse caminho reflexivo para nos questionarmos se sermos cidadãos no mundo significa sermos cidadãos de dois mundos (J. De Finance) e se ha um sentido (Alfaro) ou se toda a nossa história se dissolve no absurdo (Camus), na angústia (Heidegger) ou no nada (Sartre). Trilhando as veredas que se abrem diante de nossos passos, o que nos resta de cada esforço, de cada sonho, de cada perda e de cada vitória? Construímos e abatemos para melhorias, julgamos, condenamos e apologizamos em defesa de tudo ou de nada e tantas vezes nos amedrontamos, barbarizamos e rotulamos, e isso a preço de que? Qual a finalidade de tantas peripécias e inventivas se não acreditássemos em algo que vai além de nossas  meras fantasias e paixões? Esperamos algo ou alguém que ilumine e ofereça razões para nossas viagem?
São doses de busca, de desejos de compreensão, de inquietação diante de todo esse mistério que é a vida e como viver essa vida sem perder tempo com coisas que não favorecem a própria felicidade e porque se dedicar a questões e coisas inúteis.  Aceitar as desventuras, dedicar-se a uma causa, perder-se no mar de tantas atividades, o que leva a tudo isso?  O conforto da fé não deve ser uma alienação da incessante busca de senso, mas o bálsamo que revigora depois de longos tormentos ou a energia que te permite atravessar o deserto sem desistir da meta. Esse motivo que diz que deve continuar o dia de hoje, apesar de tudo e de todos.

P. Jorge Ribeiro

Abril 2014

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