Razões para seguir
O que esperamos da
vida? O que o futuro nos reserva? Qual o valor de nossos esforços? Para que
tanta fadiga para se terminar no nada? Qual o sentido da nossa existência?
Não são apenas
perguntas ou interrogações de cunho existencialista ou angústia de pretensos
intelectuais, para mim esses questionamentos são sempre presentes, invadem e
atravessam tudo aquilo que digo e faço; olho para as pessoas, o movimento que
essas fazem para conseguir algo e toda uma luta para se chegar a nenhum lugar.
Por um lado,
muitos vivem a indiferença e a miséria da própria solidão e, por outro lado, o
único predicado destinado a complementar essas pessoas é o vazio, a ausência de
significado para o que se vive, um niilismo generalizado. Essa falta de objetivo
possibilita reações e gestos extremos, desde a apatia da depressão até o
suicídio coletivo ou a chacina.
Parece que não se
tem critério de veracidade e de verdade além da conveniência e do gosto, o que
significa um relativismo que permeia os relacionamentos e o posicionamento das
pessoas. Dando-se o mesmo valor a tudo, acaba-se por negar a importância de
cada coisa. Aceita-se tudo, mas sem capacidade de compreensão das diferenças,
porque imposição não gera tolerância, mas apenas trégua. E as pessoas se suportam
reciprocamente, sem acolher de fato umas às outras. E tudo isso para que e por
que?
Caso não haja uma
razão mais profunda por tudo que nos dedicamos, para que toda a fadiga de estar
sempre dentro dos limites da aceitação e da superação? Somos sujeitos que
caminham errantes, entretanto, esse percurso pode ser esperançoso de uma terra
prometida ou um simples caminhar, vagando e vagueando sem destino e sem
fisionomia.
Aprendemos a viver
no sincretismo religioso, politico e cultural, onde o pluralismo de concepções
leva ao indiferentismo, ao relativismo ou ao fundamentalismo, sem uma
metodologia que leve ao maior conhecimento. O subjetivismo pessoal e coletivo
ditam os critérios e as regras do poder, da responsabilidade e dos valores
(Bonsignori) e assim defendemos, apoiamos, rejeitamos e negamos em igual medida
a guerra, a fome, a paz, a violência, a solidariedade e os direitos, sem muito
discernimento e com forte dose de legalismo subjetivo.
Ainda somos
imaturos para reconhecer nos outros um outro eu e, desse modo, a alteridade
aparece não como relação eu-tu, mas como um eu que me aproprio de tu, ou seja,
geralmente não estamos com o outro, pelo fato de ser esse outro um sujeito para
mim, mas apenas porque necessito desse outro, uma relação de objetivação e de
apropriação e não de gratuidade existencial e afetiva.
Todo esse caminho
reflexivo para nos questionarmos se sermos cidadãos no mundo significa sermos
cidadãos de dois mundos (J. De Finance) e se ha um sentido (Alfaro) ou se toda
a nossa história se dissolve no absurdo (Camus), na angústia (Heidegger) ou no
nada (Sartre). Trilhando as veredas que se abrem diante de nossos passos, o que
nos resta de cada esforço, de cada sonho, de cada perda e de cada vitória?
Construímos e abatemos para melhorias, julgamos, condenamos e apologizamos em
defesa de tudo ou de nada e tantas vezes nos amedrontamos, barbarizamos e
rotulamos, e isso a preço de que? Qual a finalidade de tantas peripécias e
inventivas se não acreditássemos em algo que vai além de nossas meras fantasias e paixões? Esperamos algo ou
alguém que ilumine e ofereça razões para nossas viagem?
São doses de
busca, de desejos de compreensão, de inquietação diante de todo esse mistério
que é a vida e como viver essa vida sem perder tempo com coisas que não
favorecem a própria felicidade e porque se dedicar a questões e coisas
inúteis. Aceitar as desventuras,
dedicar-se a uma causa, perder-se no mar de tantas atividades, o que leva a
tudo isso? O conforto da fé não deve ser
uma alienação da incessante busca de senso, mas o bálsamo que revigora depois
de longos tormentos ou a energia que te permite atravessar o deserto sem
desistir da meta. Esse motivo que diz que deve continuar o dia de hoje, apesar
de tudo e de todos.
P. Jorge Ribeiro
Abril 2014
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