DOS SANTOS, MORTOS E VIVENTES


DOS SANTOS, DOS MORTOS E DOS VIVENTES


Todos os  anos celebramos milhares de festas, como tantas motivações e tantas perspectivas; essas festividades são cívicas, populares, religiosas e pessoais e muitas não são formalizadas ou instituídas, mas é patrimônio comum, portanto, são celebradas com entusiasmo e dedicação por que adere a tal evento.
No mundo dos cristão existem tantas festas, oficiais ou não, mas que o povo devoto as celebra com igual força e fé; depois essas festas contemplam um pouco a vida e o desejo latente de cada crente, ou seja, os santos ou festas propostas respondem a certos anseios primitivos ou voluntários das pessoas.
A festa de todos os santos é uma festa democrática, pode-se dizer, pois não somente recorda os santos que no calendário litúrgico veem contemplados, mas também todos os anônimos e silenciosos que na fidelidades ao Evangelho e à Igreja buscaram ser sal, luz e fermento na vida da comunidade.
Junto e imediatamente com os santos comemora-se os defuntos, não santos? Não sei bem distinguir e os textos da liturgia não iluminam essa vertente, todos os defuntos acredito, pois os santos são também defuntos, ainda que vivificados pela fé e justificados pela justiça divina. Mas o fator diferencial se encontra somente no além, porque do ponto de vista material estão no mesmo lugar, debaixo da terra ou como cinzas, o corpo experimenta o mesmo, porque a “ressurreição” dos mortos ainda não aconteceu segundo a Revelação cristã, necessita-se esperar os últimos dias, ou seja, a Parusia.
E nós que não somos defuntos e ainda não seguros da própria santidade ou fidelidade, como nos classificamos? Os santos são os cidadãos do céu, os mortos jazem na esperança da vida eterna e nós simples mortais? A festa dos santos é o sonho da beleza, da alegria e da felicidade; a lembrança dos mortos é a nostalgia, a saudade e o triste fim; os existentes somos  reticentes, incoerentes, perdidos e sem garantias.
O que une todas essas categorias é o sujeito: o homem. Ser santo não é ser perfeito, esta não existe para o gênero humano, mas confiança e entrega generosa a Deus e ao seu plano de amor; ser santo é ser consciente da própria miséria e mesmo assim confiar plenamente no Senhor.
O homem não pode sonhar na terra de viver no paraíso, se é certo que somos feitos para Deus mas é também certo que para estar no mundo: como luz, sal, fermento e não para fugir ou negar esse mundo; essa seria uma das torturas infligidas aos crentes, aquela de não pertencer a si mesmo e ao mundo que vive, assim como deixar passar essa vida esperando uma melhor no além; digo somente que não se pode em nome de uma ressurreição deixa de realizar a própria essência de ser no mundo e para o mundo, compreendendo todos os defeitos, pois a perfeição é para os deuses e não para os homens.
Os santos, como todos os viventes, experimentam a tensão entre o que se é e o que se deve ser, mas não se deixa bloquear pela incertezas e dificuldades, mas mergulhando na entrega do Cordeiro encontram a luz e a força necessária para poder ser fiel até o fim. A perseverança e a capacidade de desprendimento caracterizam o ser santo, ou seja, o ser para o outro e não para si.
A festa dos santos e dos defuntos demarcam o arco completo do futuro dos viventes, pois os santos é o ideal e o desejado de perfeição de todo crente e o defunto é a realidade que entra porta adentro de todo cidadão, sem pedir licença e sem olhar condição; festejar os santos e os defuntos significa reconhecer a esperança de realização e de felicidade vivenciada pelos santos, ao menos assim se acredita, e o dramático destino de todo vivente, acabar a sua existência na solidão dos infernos.  Verdade é que sem esperança a condição humana se torna triste e sem sentido, mas por toda esperança numa vida além da presente é jogar a própria vida num penhasco que não se sabe que fundo se reserva.
Entre santos, mortos   e desesperados busco o meu lugar, sem pretensão, sem correria e sem exuberância, pois se consigo perseverar na fé e na esperança santo serei, morto serei mais cedo ou mais tarde e, por isso mesmo, busco viver cada dia com a maior alegria possível, quem sabe o que pode acontecer!!!

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