DO CINISMO
“O que se
pode fazer amanhã se pode fazer hoje”, repete Montaigne diversas vezes e ele é
convicto que quem coloca em dúvidas as próprias veracidades acaba por fazer uma
grande serviço à humanidade, ou seja, que a ciência e as certezas humanas são
relativas.
O cinismo
perante os absolutismos e pretensas verdades se faz necessário, quer dizer, não
recepcionar como coisa séria e virtuosa o que usa a força para se fazer valer
ou quem usa de meios não bons para se fazer obedecer, isto é, não tem via
melhor que o cinismo para se relacionar com sistemas e pessoas que exageram na
reação ou na proporcionalidade de peso às situações humanas.
Afirma-se que pessimista ou otimista se nasce
e que cético se torna com o tempo, verdade também é que o cinismo se aprende
com o tempo e com o desdramatizar da vida e as diferentes circunstâncias que a
envolvem. O cinismo, além da corrente filosófica assim chamada pelo seu
posicionamento interpretativo e da estrutura psicológica de algumas pessoas,
pode ser também uma atitude perante
ideias, fatos, pessoas e sistemas que se perceba desproporcionado ou
inadequado para o momento.
O cinismo
se apresenta como uma dose de ironia diante da vaidade da própria realidade; é
o olho seguro que sabe captar o desvio, o absurdo e o incoerente da vida,
porque no cinismo a realidade se apresenta assim como é, nua e crua e não
mascarada com o peso da aparência convencional de quem não quer desagradar; o
cinismo permite de se expor sem medo que os julgamentos e os prejuízos possam
provar complicações, ou seja, é uma atitude de maturidade intelectual e
antropológica.
O cinismo
é o inicio que a consciência se torna consciente, pois esse é o pudor do
espirito que com leveza politica enfrenta a realidade na sua mais profundo
coesão; o cinismo é também uma silenciosa e eficiente maneira de contestar e
aceitar determinados desafios que não pode de imediato se desfazer. Funciona
como mecanismo de defesa, como desconstrução de uma parâmetro definido e
filosofia de percepção da realidade em geral.
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