DA ANGUSTIA
“Quando o
sorriso se perde na face e a tristeza invade”, essa frase de uma musica diz o
que em síntese se pode experimentar quando a angústia se torna uma visita
constante. Essa sensação contínua de
vazio e de insatisfação, que na maioria
das vezes vem traduzida com tristeza, inquietude e desgosto.
Montaigne
diz que “quem tem medo de sofrer, sofre já pelo que teme”, isso é muito inciso
quando se padece da angústia, pois essa porta a desejos e sentimentos adversos,
levando, muitas vezes, a obscurecer o próprio juízo sobre situações e pessoas;
a angústia carrega consigo um certo que de amargura, revolta e dúvidas, mas
também evoca a irrealização pessoal de projetos e de buscas existenciais.
A angústia
como desaprovação de sistemas e de estruturas que bloqueiam e escravizam e a
angústia como grito exasperado de quem padece o peso de uma existência que se
apresenta dura, inconclusa e sem futuro, e assim, em variantes quadros diversos muitos expressaram a dor
interior, tais como Heidegger, Camus, Sartre, Kierkegaard, Todorov,
Dostoievski, Montaigne; o medo da guerra, da doença, das invasões e de tantas
eventualidades novas levam à angústia, como perplexidade perante o desconhecido,
como reação a algo ou alguém que ainda não se compreende bem.
A
desintegração do eu ou a falta de contentamento é a versão mais conhecida da
angústia psicológica ou existencial, onde o dinamismo pessoal se transforma em
relutância e paralisação; o movimento
que comporta, ordinariamente a arte de viver se compromete profundamente e a
pessoa passa a construir a sua estrada na fronteira do dessabor e do
sofrimento.
O
pensamento moderno e, em geral, o modo de viver de nosso dias, apresenta um
remédio pior que o mal, ou seja, para superar a angústia do homem contemporâneo
oferece modelos alternativos de cura, e esses se demonstram mais devassantes
que a angústia mesma, pois o vazio, a
perda dos valores e a decadência são ainda maiores. A angústia arrasta consigo
um pessimismo, mas a alienação utilitarista ou religiosa proposta come legitimo
remédio ao mal se transforma em ódio geral contra tudo e todos.
A revolta,
a desrazão, o nada, o fideismo e a poesia como alternativa a essa desesperada
conflitualidade que se é imerso o homem contemporâneo e tantas saídas
resultaram tremendas, desde os campos de concentração, as ditaduras politicas e sociais, a
banalidade cultural, a alienação religiosa, as guerras, os movimentos naturalistas
e grandes expressões de protestos contra a desumanização dos dias hodiernos.
Pois na esfera pessoal, o remédio vem
representado nos inúmeros gestos isolados de beleza, de brutalidade e de
inventivas; depois tantos gritos sufocados e tantos tormentos escondidos, assim
como exasperações desembocadas em loucuras, atos extremos de violência,
suicídio e depressão. Alguns externaram nas poesias, nas cartas, nas
esculturas, nos livros, nas musicas esse desafio e muitos atravessaram o
deserto e chegaram a se refrescar com agua límpida da serenidade interior, mas
nem todos se permitem ou tem a graça dessa meta.
Mas o que fazer quando essa dor dilacerante,
deprimente e amarga invade o espirito? Como reagir se até as coisas mais
gostosas perdem o seu encanto e sabor? Como superar o vazio oceânico que toma
corpo depois de cada ação e de cada momento vivido? Como aterrissar dessa
viagem sem destino e que continuamente te joga verso o nada absoluto? Como é
possível sentir essa queimadura psico-espiritual sem nenhuma causa ou motivação
aparente que possa arrastar uma reação desse tipo? Por que essa insatisfação de
si e da vida em geral? Por que esse viver atinge somente quem busca encontrar
um significado para a própria existência? Seria melhor refugiar-se e alienar-se
em formas alternativas de abobamento da consciência ou decair na banalidade de
ser e existir?
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