Pílulas e urubus!
Por. Pe. Jorge Ribeiro
Parafraseando o filme de Marcelo
Gomes, “Cinema, aspirinas e urubus” ( 2005), parece-me que existem pessoas que
procuram “carniças”, ou seja, que ficam farejando desgraças para poder
publiciza-las. Sejam fatos históricos,
políticos, religiosos ou eventuais, mas
literalmente caçam por notícias ruins, deixando claro o próprio pessimismo e
querendo desnortear os outros também. Pode até ser uma verdade inconveniente,
mas é verdade. O impacto de uma notícia ruim ou desagradável, sempre e de algum
modo causa desestabilização, por isso, os espíritos conturbados ou
negativistas, insistem em proliferar acontecimentos que são de cunho obscuros e
malévolos, para alterar ou influenciar os outros a experimentarem, como eles, o
peso da própria existência. Não se transmite ingenuidade ou preocupação na
busca e na transmissão de conteúdos e realidades depreciativas ou destrutivas,
mas evoca o prazer de que não existe possibilidade de melhoria ou de
transformação nas pessoas e na sociedade. Esse pessimismo subjacente é a
derrocada que empurra para a escuridão pessoal e social. A consciência humana
não é neutra, ela é por si mesma partidária. Como no filme de Gomes (2005), a
vida é uma andança e será preciso lutar com o que se tem e pode para poder
alcançar os propósitos e chegar aonde se pretende, mas sem exasperação ou
derrotismo. É verdade que existem muitos destroços ao longo da estrada, mas
fazer da própria condição um colecionador de cadáveres é um pouco nauseante e
desproporcional. A vida é além ou aquém dos fatos e eventos, ela é pujança e
desejo de vitalidade, que não se deixa rotular por critérios subjetivistas e
nem se embrulhar por utopias de um mundo ideal que não existe. Fora as
catástrofes que já sucedem, muitas vezes até anunciadas, o fato é que
determinados tipos de pessoas se debruçam a escavar misérias e desastres, sejam
de cunho pessoal, social ou cultural. Essas almas derrotistas, que certamente
se regozijam semeando a inutilidade dos esforços e das lutas, são também
acomodadas, anestesiadas pela própria falta de perspectiva e para não se
envolverem ou lidarem com tudo no modo politicamente correto, usam pílulas de distanciamento,
de religiosidade ou de pessimismos, para assim negarem a inutilidade de
qualquer ação que possa desestabilizar; entretanto, essas mesmas almas, como
urubus ansiosos, inclinam-se para escarafunchar situações que provoquem senso
de nulidade e apatia às pessoas, e isso se fazem tanto em situações do
cotidiano, como de registros virtuais. Esses urubus fazem questão de publicizar
o que não deu certo, o que não está bom, o que de ruim aconteceu e, tantas
vezes fazem já no automático. Escutou uma notícia ou viu uma postagem, caso
seja de cunho negativo, logo insuflam nos grupos e em outras postagens. Certamente não se deve
ser alienado ou distraído a ponto de não perceber o que se acontece, mas qual o
interesse de somente pontuar o que não está bem ou que causa destruição? Desde
um tipo de imprensa que só noticia desgraça, a programas sensacionalistas nas
tardes das tevês que só apresentam casos de misérias ou postagens que
multiplicam desventuras. Essas figuras adeptas das carcaças estão em nossas
casas, sempre amarrando e puxando para baixo; estão nas nossas igrejas, somente
criticando os erros dos que fazem alguma coisa; estão nas instituições, pongando
nos direitos e sugando as possibilidades e não contribuindo para o desenvolvimento
da própria empresa, enfim, os abutres estão por toda parte, bisbilhotando qualquer carniça para poder se
sentir mais forte ou esperando o outro cair para se sentir mais alto. É preciso
ler mais, se distrair mais, amar mais e trabalhar mais e deixar que cada um
cuide de seus cadáveres. Pensamento positivo, alma sossegada e empenho
solidário!
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