Humanizar o
humano
Por Pe. Jorge Ribeiro
Numa primeira
impressão parece tautológico, pressuposto ou descontado que o humano seja
humanizado. Falando em humano deveria vivenciar a humanidade, mas não é bem
assim. Muitos caem no formalismo e no tecnologismo que se desumaniza, ainda que
numa operação meramente humana. Os sistemas econômicos, educacionais,
religiosos, medicinais, socioculturais
entre outros, quantas vezes são taxados de desumanos, impessoais e
distantes? Quem já não sofreu a indiferença de pessoas que parecem máquinas no
tratamento com as pessoas? Até as relações interpessoais, com o advento da era
virtual, está se transformando em desumana, fria e objetivada. Faz-se
necessário uma releitura da história e da própria conduta individual para que
as ações humanas sejam realmente humanas.
O ideal seria que
tudo que se referisse ao humano fosse humanizado, desde o atendimento médico ,
ao processo educativo, até nas
negociações financeiras. Pasmem, mas o formalismo, o legalismo e o
eficienticismo tem roubado espaço ao que é próprio do humano: o interesse, a
aproximação, o acolhimento e a solidariedade. Os vínculos começam a se tornarem
mecânicos e automáticos, transformam o contato e a convivência com regras de
bem-estar. Onde fica o sentir-se gente com os outros, ser parte de uma família
em que se querem, apesar das diferenças? Desse modo, a violência, a
desonestidade, as falcatruas, os enganos se tornam naturais, onde cada qual
busca o seu e egoisticamente se dá bem a qualquer preço e os semelhantes que se
danem. Quando se questiona tal desumanização, culpa-se logo os sistemas e as
instituições. Entretanto, quem forma essas realidades? Ainda que estivéssemos
num ambiente robotizado, essas criaturas provêm de mentes e mãos humanas.
A reeducação dos
sistemas e das instituições é urgente, pois o lucro e a vantagem não podem ser
os únicos critérios de progresso e desenvolvimento, mas cada pessoa precisa
assumir sua condição de ser-no-mundo, arcar com suas responsabilidades,
distinguir-se dentre os demais sem qualquer tipo de sujeição ou
intolerância. O processo de humanização
precisa ser retomado, e ir além do
humanismo e das projeções existenciais do século XX, dado que a humanidade tem demostrado
sua barbárie, com modos de viver selvagens e destrutivos. Humanizar é conscientizar
da própria condição, mas também e, sobretudo, colocar a razão e o trabalho ao
serviço da melhoria da humanidade. O absurdo das descobertas servirem aos que
pagam mais, transformando o que ontologicamente faz melhor a pessoa em preço de
mercado.
O caminho
destrutivo da atualidade nega toda
conquista de valores e de princípios que tem
conduzido a humanidade a ser expressão de beleza, esperança e alegria. A
briga desenfreada pelo ter mais e a ostentação individual e coletiva, tem
esvaziado o sentido do arcabouço construído ao longo da história. O que se
tornou a obra de arte? E o futebol? A religião, a educação e as relações, para
citar alguns? Mercantilismo e moeda de troca, dando uma outra finalidade e uma
cara meramente subjetivista e objetivante ao mesmo tempo. Chegou-se numa
maioridade intelectual e física e se atrofiou a essência benévola do humano. Qual o lugar para o espírito humano numa
estrutura assim? No máximo permanece uma consciência ou uma psique aquebrantada
que deve ser ajustada continuamente. A banalização cultural e dos costumes,
assim com a perca de conduta ética tem empurrado a humanidade para o
extremismo, que se traduz em violência, falta de sentido, perversidade,
arrogância, negação da natureza e ganância. Somente humanizando todos os
segmentos e estruturas, a partir das relações pessoais e interpessoais que se
pode construir uma civilização que se possa denominar como humana, quer dizer humanitária,
pois é solidária e acolhedora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário