Alteridade e medo

o outro: alteridade e medo



O conceito de alteridade abarca tudo que diz respeito ao outro, mas também ao nosso, assim como ao que é de mais íntimo quanto ao mais estranho. Antropologicamente o estranhamento significa reconhecer a alteridade. O diverso de mim mesmo. O outro nem sempre é positivo e a literatura mostra em diversas dimensões. Do ponto de vista da filosofia o outro se mostra tanto como o sagrado, quanto como o diverso, o que causa medo. A epifania do outro manifesta diversas reações também e uma constatação é feita: tudo que vive tem medo. A sensação do medo é a de ser vigiado, mas também a de ser dominado.
Esse outro, diverso de mim, que me mete medo, está fora de mim ou interno a mim mesmo, as perspectivas são muitas. No Des Cannibales (Michel de Montaigne), o pensador francês faz a  reflexão na qual evidencia que os chamados de bárbaros e que temos medo é o que não temos domínio. Talvez por isso queremos exorcizar, extirpar o que não é nosso ou não são dos nossos. O diferente coloca outra possibilidade. A filosofia da libertação de Enrique Dussel, que é uma filosofia contextualizada na América Latina, fala desse medo da alteridade como a negação do outro.
O medo da alteridade seria porque nos sentimos ameaçados, isso insinua Tzvetan Todorov no seu La peur des barbares, o que significa que o medo do outro se traduz bastante como medo da inclusão ou da alteração. O diferente, muitas vezes é visto como o bárbaro, pois o desconhecido provoca insegurança e incertezas, e quem vive tem medo, mesmo porque a imaginação gera o medo. Essa cultura do medo gera o medo do medo (Montaigne), onde a alteridade se traduz em Face to face with fear (Krishnananda Amana) e isso é um dado.
Cabe então a pergunta: O medo do outro é medo de mim mesmo? O que dá a minha identidade? Ousaria dizer: Os meus medos. Tem-se de adestrar o inimigo interno, para se tornar “eu mesmo”, ou seja, o medo está no desconhecimento provocado pela indiferenciação de um tu com outro tu: De l’un et de l’autre (De Finance). Quem é o outro de mim? No perspectivismo soaria que cada um é cada qual. Isso quer dizer que o medo do outro é uma questão de perspectivas? Assim a alteridade não seria mera exterioridade, isso significa que o ponto de vista de cada um é que provoca esse extasiar-se diante da alteridade. Se quem vê tem medo (parafraseando Viveiros), concluo dizendo que, o que vive tem medo, quem não tem medo é um fantasma.

Referências bibliográficas:
Bolda da Silva, M. Metafisica e assombro. São Paulo: Paulus, 1994.
LEVINAS, E. Totalidade e infinito. Lisboa: Edições 70, 2000
Montaigne, M. Essais. Paris: Gallimard, 1965.
TODOROV, T. La paura dei barbari. Milano: Garzanti, 2008.


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