Medo da mesmice
Começando
a Semana, tenho a sensação que se começa algo novo, mas é apenas sensação, as
pessoas e os lugares são os mesmos, ainda que as expectativas sejam diferentes.
É verdade que existem outras possibilidades, mas é verdade também que tem uma
gama de coisas e situações que já estão arraigadas e que não se pode
desvencilhar assim facilmente. Eu me
angustio, talvez inutilmente, mas é porque não percebo uma mudança
considerável, nem em mim mesmo e nem nos outros. Parece que vamos nos arrastando
pela correnteza dos fatos. Como viver sem ser assim manipulado pelas
eventualidades da existência? Como provocar uma ruptura que oferte um sabor
diferenciado a tudo isso que parece desigualmente igual? A reflexão, a
interatividade, a interpelação e a interrogação, entre outros moldes, ajudam a
não cair na mesmice e na rotina. Essa banalização da existência e essa
provisoriedade da vida, que se traduz em imediatismo e busca desenfreada de
ter, como influenciam na minha percepção da realidade? E eu que até busco dar
um sentido e um significado para minha caminhada, encontro momentos sem razões
e sem motivos..., O nada que parece equacionar a perda de direção é vazio
também, pois todas as coisas se esvaziam, mas se penso algo, penso como
existente e não como nada. A vontade de permanência e utilidade que geralmente
dão sentindo as pessoas e às suas buscas precisam ser superadas, dado que a
mudança é constante e que a luta por sentido é superação desse mesmo sentido
como algo fixo e perene. Como sair de si e das próprias circunstâncias e não
abandonar o que lhe é mais pertinente? Quero ir embora! Mas para onde? Existe
um espaço / lugar onde se possa viver sem as desventuras existenciais? Como
fugir das próprias vicissitudes e enganar as diferenças que o mesmo peregrinar
impõe como estrutura e necessidade? Como se contentar com o dado se sou
ontologicamente inquieto? Como não se angustiar se os limites provocam
curiosidades e anacronias entre elementos da própria existência? Se por um lado
me pergunto como exercer a liberdade de modo autêntico, do outro lado me
pergunto porque a busca pelo nada quando o ser já se impõe aprioristicamente?
Por que entristece a alma que busca sentido quando tudo parece esvanecer sem
razões maiores? Qual o valor de gastar os dias e as energias sem nenhuma
garantia? O que espera quem busca encontrar motivos para viver com significado?
O futuro tem futuro ou é apenas resultado de conexões e acasos? Como não desanimar ou desistir quando se é
forçado a viver negando continuamente a própria liberdade? A angústia de quem
quer caminhar com direção exige uma renovação cotidiana e uma perseverança nos
próprios propósitos sem se deixar abater ou determinar pela muitas conspirações
que jogam ao contrário e que tendem a paralisar a caminhada. Quando se busca
viver com consciência variadas tentações querem aprisionar: a tentação de
desistir, de voltar, de se deixar levar, de acordismos e conveniências, a
tentação de rigidez e indiferença…, são muitas as forças ocultas ou não quando
um se desguarnece acaba por obscurecer, aprisionar e acomodar. O grito de quem
clama por justiça é semelhante ao grito de quem clama por autenticidade. O
clamor de quem denuncia a violência é como o clamor de quem reclama espaço para
lutar por uma existência livre e com sentido. Tenho medo de cair na mesmice, de
não mais me maravilhar ou admirar do que acontece. Tenho pavor de que a
normalidade pactuante me assalte e não me permita perambular sem ermo.
Um comentário:
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