DESAFETOS
Um gosto amargo de
tristeza e decepção é ancorado pela mesmice e pela indiferença, isso fundamenta
o individualismo e o desânimo que abate sobre o peregrino. Nesse vale de
impiedade e de ganância, o que nos resta? Desaguar-se no desespero e na
angústia e inebriar-se por torpes satisfações? Acabrunhar-se no próprio peso e
arrastar-se sem perspectivas numa estrada desconhecida? Esconder-se nos
infinitos mistérios e alienar-se em práticas rituais e desencarnadas? Revoltar-se
e maltratar a si mesmo, colocando-se como esquadrão ácido e feroz? Acreditar em
dias melhores e começar paulatinamente a remoção dos pedregulhos e expulsar todo
apego e privilégio? Qualquer que seja a solução, essa é inacabada e violenta. Sem
garantia de sucesso ou de reconhecimento. Como lidar com essa ambiguidade
estrutural e reticente duma realidade que se mostra escarnecida e cínica? É impreterível
um posicionamento e uma atitude. O preço será demasiado alto e o custo pode extrapolar
as próprias intenções de continuidade? Qual certeza se agarrar para não sucumbir
no turbilhão de hipocrisias e falsas evidências? O temor de ser levado pela
enxurrada de desenfreadas aparências e salvação pode ferir profundamente de
modo a não se ter mais uma válvula respiratória.
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