Blefe
Traço
aqui umas linhas ilógicas e superficiais para expressar o que faz tempo eu queria
mastigar. A vida é mesmo inacreditável. Ela surpreende sempre. Carrega a nossa
vivência uma ambiguidade que se parece mais com devaneios do que com realidade.
Mas é essa a nossa índole de ser no mundo e de ser dependente dessa
mundaneidade que nos circunda. Que
poderei dizer então, que sou blefe, essa existência medíocre e ridícula, tudo
parece não ter sentido e ao mesmo tempo que parece estarmos longe, já estamos
de novo em volta, estamos já por perto. Essa mistura desnecessária de alegrias
e tristezas, essas canções que as vezes soam encher de entusiasmo a caminhada,
mas em outros momentos semelhantes provocam cansaço. Que é isso, essa
desaceleração de momentos alternados de invenção e de cruel monotonia. Essas
histórias que fazem memória de um
passado que não é meu, pois tudo se esvanece, isso não passa da construção de uma narrativa fictícia, não sou
o que acho que sou e ainda menos o que os outros dizem e pensam de mim, pois eu
sou como a vida é, um blefe, uma mentira costurada com arranjos de veracidade.
O que fica depois de tudo? O que nos espera depois do nada? Para que tantas
fadiga e murmurações onde o imprevisto tem o desfecho final? Para que se
importar com tantos detalhes quando é o nada e sua simplicidade que nos acolhe
em seu eterno seio? Esperança, fé, futuro? Acredito em tudo sim, e isso me faz
ainda perambular nesse imenso horizonte sem destino, mas qual garantia temos do
devir? Do lado de cá posso ficar tranquilo se nada sei do lado de lá? Não posso
ter medo de pensar essas variedades ou me refugiar numa promessa sem padecer as
consternações de uma vida que somente o agora é presente.
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